Há dias, numa conferência, escutei uma frase impactante de Goethe que terá sido proferida no meio de uma conversa: “ A presença é a única deusa que eu adoro.” Fiquei a pensar nela e a contemplar os seus contornos e implicações. Na verdade é a presença que importa. É o toque e o abraço. Um beijo. O respirar apertado. Uma palavra amiga. Um conselho no tempo certo. Estarmos presentes na vida de alguém faz de nós mais do que somos. Completa-nos e eleva-nos ao patamar do verdadeiro humanismo. A aceleração da comunicação e das plataformas tecnológicas faz-nos acreditar que estamos juntos e que está tudo bem. Não é verdade. Lamento, mas não é verdade. Não condeno os modernos mecanismos de comunicação em que nos movemos de um modo frenético. Eles fazem falta num mundo que avança demasiado rápido. Estamos em todo lado à distância de um toque de ecrã. Estes dispositivos aproximam-nos e desenham pontes onde elas não existem. Na verdade, são úteis. Mas criam dependências e exageros. Promovem a falsa sensação de contacto real. E isso não passa de uma quimera. Precisamos de resgatar o tempo do beijo e do abraço, da palavra amiga e das conversas sem fim. Precisamos de desacelerar para encontrarmos espaço e tempo para nós e para os outros. Temos que nos reencontrar com a palavra que se diz em direção aos olhos. Precisamos de voltar a sentir o cheiro de quem nos abraça. A presença conta e importa muito para quem a deseja. Adoramos muitas coisas, talvez demasiado ostensivas ou superficiais. Mas se pensarmos na frase de Goethe talvez percebamos que a presença, a nossa e a dos outros, é que faz de nós que somos, completando-nos na nossa humana dimensão. De tanto teclarmos no ecrã vamos perdendo a noção do tempo e do espaço que ocupamos. Tornamo-nos zombies das redes sociais, substituindo os afectos por emojis. Assim, parece que tudo está certo na nossa cabeça. Procedemos em conformidade com os tempos que correm. Mas, no fundo, sabemos que nos estamos a perder. Sim, a presença importa. É, justamente, a deusa que devemos adorar, sobretudo nestes enquadramentos tão frios e sombrios, repletos de escuridão, como os que temos vivido à escala global. É a presença que se reclama. A sua ausência é mais do que saudade. É areia que se esvai entre os dedos. Haja luz que nos ilumine para voltarmos à geografia da presença.