Roubo, por instantes, um pedaço do poema “Urgentemente” de Eugénio de Andrade para ilustrar a urgência do nosso tempo. O poeta do sol diz-nos que é “urgente o amor”. Humildemente acrescento que o nosso tempo é demasiado urgente para o desperdiçarmos como amiúde fazemos. Só temos uma vida! Esquecemo-nos disso com frequência. Zangamo-nos por quase nada. Irritamo-nos a toda a hora quando devíamos desvalorizar as minudências que não importam.
Damos valor ao que não tem, sobretudo em enquadramentos negativos. Construímos problemas na nossa cabeça que depois, na verdade, nem existem, pelo menos na formo como os desenhámos. Entretanto consumimo-nos. Deixamo-nos invadir pela tristeza e pela depressão. Sonhamos com dias melhores.
Desejamos sair da bolha em que nos metemos. Agarramo-nos ao passado. Pensamos no futuro, esquecendo o presente. Não vivemos no tempo certo. A vida passa … demasiado depressa. Os ponteiros do relógio são impiedosos mas também absolutamente democráticos São impiedosos para todos.
Nada pode comprar mais tempo do que o que nos foi confiado. Na verdade o tempo é o que fazemos dele. O presente importa muito. Temos que nos concentrar nele. Temos um vida para cumprir. Por isso, como sentenciou José Saramago, “Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo“.
Temos que ser felizes agora, no tempo que nos cabe. É urgente! É urgente o amor e, como nos diz o poeta, também “é urgente inventar alegria, multiplicar os beijos, as searas, é urgente descobrir rosas e rios e manhãs claras” . A felicidade é uma urgência do caminho presente. Não se deve adiar para amanhã ou depois. Precisamos dela já! Mas sabemos que ela não nos vai cair no colo. Temos ir à procura dela. Temos que a reclamar.
Às vezes dizemos que não temos tempo para nada. Isso não é verdade! Temos que colocar a felicidade na agenda para fazermos como Clarisse Lispector nos ensinou: “ Não tenho tempo pra mais nada, ser feliz me consome muito“. Deixemo-nos consumir nesta urgência. Nós estamos no tempo presente. É aqui que devemos viver. Os amanhãs que esperem a sua vez. É agora que devemos enrolar-nos com a felicidade beijando-a até ao infinito.