Estes dias de Verão convidam à simplicidade. Desfazemo-nos de horários e libertamo-nos das roupas pesadas que ao longo do ano desenham a nossa marca individual numa comunidade que olha em demasia para o que parecemos ser segundo a nossa camuflagem. O calor, obviamente, convida a deixar de lado o que não é necessário e a libertar tudo o que pesa no caminho. Adaptamo-nos à estação que corre simplificando tudo o que pudermos. Ficamos mas próximos de nós e em contacto mais íntimo com a nossa pele. Somos mais iguais. Mais próximos do nosso chão e também mais identificados com a natureza que nos envolve. O tempo do sol faz alongar os dias que correm. Pensamos, conversamos e contemplamos mais. Os diálogos ficam mais soltos. O som da água que flui mistura-se com risos e gargalhadas que combatem os vazios de tempos mais frios e sombrios. Nestes dias cheios de luz e noites claras, deixo-me levar peila suave brisa das palavras que o filósofo David Hume um dia nos soprou: “ A beleza das coisas existe no espírito de quem as contempla.” Na verdade, o tempo do sol puxa-nos para fora das nossas cavernas, desprotegendo-nos ao mesmo tempo que nos liberta. Sem a proteção das sombras seguimos no caminho da luz. Procuramos chegar ao destino estival que nos propusemos alcançar. Percorremos o caminho com outro vagar, com outra atenção e cuidado. Contemplamos o que vemos e sentimos. Tudo nos parece belo. Talvez tudo tenha sido sempre tão belo e nós, por pura distração, não tenhamos tido o tempo e o cuidado de perceber isso. A verdade é que neste tempo que corre mais devagar talvez estejamos mais disponíveis para contemplar. Tudo parece simples e belo ao nosso olhar. Mesmo no matagal seco e desajeitado paramos para observar as cores florais que sobressaem em todo o esplendor sem precisarem de ninguém que as cuide. São belas como nunca pensámos que fossem. Ou talvez seja o nosso espírito que as torna belas ao nosso olhar. Mas isso pouco importa. O que é verdadeiramente importante é sentirmos que estamos vivos, podendo apreciar a beleza das coisas que se apresentam diante dos nossos olhos. A natureza faz o seu trabalho de sempre. E nós fazemos o nosso, mostrando-nos mais abertos e disponíveis para contemplarmos o que deve ser contemplado.