Às vezes a vida torna-se cinzenta. Perde cor e alegria. O tempo avança e os sonhos vão-se esfumando no meio da neblina que se vai adensando na estrada. A realidade tem um peso incomensurável. Continuamos a avançar, mesmo cansados. Os sonhos vão perdendo força e nós também.
A fadiga abraça-nos com demasiada determinação. Agarra-se a nós para tornar o caminho ainda mais pesado e lento. Mia Couto fala-nos disto para sublinhar que a “fadiga que sentimos não é tanto do trabalho acumulado, mas de um quotidiano feito de rotina e de vazio. O que mais cansa não é trabalhar muito.
O que mais cansa é viver pouco. O que realmente cansa é viver sem sonhos." Na verdade, não podemos nem devemos perder os sonhos, deixando de sonhar, enquanto permanecemos a caminhar. Os sonhos que não se concretizam são mais importantes do que pensamos. Eles são a força e a luz do caminho.
São a nossa essência e também a seiva que nos alimenta em todas as travessias de todos os desertos. Sem eles não somos nós. Não somos nada mesmo que prossigamos no caminho, na viagem.Até na noite mais escura e nos meio de todos os dias cinzentos, não podemos deixar que a chama do sonho se apague porque, como reforça o grande poeta moçambicano, “enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva. É para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro."
Precisamos de estradas vivas e caminhos de futuro com gente dentro, repleta de sonhos. Sigamos em frente, semeando luz em todas as coordenadas para que os dias cinzentos não vinguem em cima dos nossos sonhos de todas as cores. Não podemos deixar de sonhar porque há ainda muita estrada para andar.