OPINIóN
Actualizado 26/02/2024 07:37:49
Miguel Nascimento

Os dias que agora começaram a ficar frios, cumprindo o inverno que a natureza manda, reclamam o conforto da lareira e da excelente companhia que ela nos faz. Estendemos as mãos e esticamos os dedos junto ao seu crepitar para que o seu calor nos entre nos ossos. Entre mil pensamentos reviramos, a espaços, os paus que dão força e vigor ao fogo, alimentando a sua combustão. A chama viçosa conforta-nos no calor que nos abraça e tranquiliza.

Entretanto, deixamo-nos dormir em sonhos por concretizar na esperança de todos os amanhãs que virão. Acordamos a espaços tal como fazemos nos ciclos da nossa vida. Nesses momentos não podemos deixar de estabelecer paralelismos entre a lareira que arde e o caminho que seguimos.

Como nos disse Nietzsche ”um homem precisa de arder no seu próprio fogo para poder renascer das cinzas.” E fazemos isso tantas vezes que nem damos conta da nossa própria transformação. Sim, ardemos nas nossas chamas interiores. Consumimo-nos por dentro. Alimentamos o fogo com as nossas preocupações, ansiedades, desejos e circunstâncias.

Ardemos até ao fim. Renascemos. Vamo-nos transformando no que somos. Assumimos a nossa condição de pássaros de fogo que se consomem nas suas chamas para, tal como a mítica Fénix, renascermos das nossas próprias cinzas. Contemplamos de novo a lareira que vai consumindo a lenha que vamos colocando.

Através dela percebemos o que se passa connosco. Paulatinamente vamos tomando consciência da nossa metamorfose. Caminhamos em direcção à felicidade não sem antes percorremos itinerários penosos. Mas só assim damos valor ao que queremos ser e onde queremos estar. Na verdade, como diz Alejandro Jodorowsky, “só te realizarás quando não temeres o que és.” E nós somos caminho entre fogos que ardem por dentro para renascermos das nossas cinzas. Somos, sem darmos conta, pássaros de fogo que voam até ao destino que vamos construindo.

Etiquetas

Leer comentarios
  1. >SALAMANCArtv AL DÍA - Noticias de Salamanca
  2. >Opinión
  3. >Os nossos pássaros de fogo