Os dias que agora começaram a ficar frios, cumprindo o inverno que a natureza manda, reclamam o conforto da lareira e da excelente companhia que ela nos faz. Estendemos as mãos e esticamos os dedos junto ao seu crepitar para que o seu calor nos entre nos ossos. Entre mil pensamentos reviramos, a espaços, os paus que dão força e vigor ao fogo, alimentando a sua combustão. A chama viçosa conforta-nos no calor que nos abraça e tranquiliza.
Entretanto, deixamo-nos dormir em sonhos por concretizar na esperança de todos os amanhãs que virão. Acordamos a espaços tal como fazemos nos ciclos da nossa vida. Nesses momentos não podemos deixar de estabelecer paralelismos entre a lareira que arde e o caminho que seguimos.
Como nos disse Nietzsche ”um homem precisa de arder no seu próprio fogo para poder renascer das cinzas.” E fazemos isso tantas vezes que nem damos conta da nossa própria transformação. Sim, ardemos nas nossas chamas interiores. Consumimo-nos por dentro. Alimentamos o fogo com as nossas preocupações, ansiedades, desejos e circunstâncias.
Ardemos até ao fim. Renascemos. Vamo-nos transformando no que somos. Assumimos a nossa condição de pássaros de fogo que se consomem nas suas chamas para, tal como a mítica Fénix, renascermos das nossas próprias cinzas. Contemplamos de novo a lareira que vai consumindo a lenha que vamos colocando.
Através dela percebemos o que se passa connosco. Paulatinamente vamos tomando consciência da nossa metamorfose. Caminhamos em direcção à felicidade não sem antes percorremos itinerários penosos. Mas só assim damos valor ao que queremos ser e onde queremos estar. Na verdade, como diz Alejandro Jodorowsky, “só te realizarás quando não temeres o que és.” E nós somos caminho entre fogos que ardem por dentro para renascermos das nossas cinzas. Somos, sem darmos conta, pássaros de fogo que voam até ao destino que vamos construindo.