A vida é uma coisa extraordinária. É um caminho feito de escolhas, oportunidades e experiências. Aprendemos, desde muito cedo, que as geografias têm limites. Aprendemos a respeitá-los e também a desafiá-los. Há limites que decorrem das circunstâncias e outros que são impostos por terceiros, devido a muitas e diversificadas razões.
Mas, como sabemos, os limites mais fortes são impostos por nós e representam muros tão altos e densos que, por vezes, não conseguimos ver para além deles. Todos devemos ter limites e, sobretudo, respeitar os limites dos outros. Mas se quisermos viver para além da simples existência temos que saber saltar e derrubar os muros que limitam a nosso crescimento individual e colectivo.
Ao longo dos séculos da humanidade precisámos sempre de todos os que ousaram ir além dos limites, navegando em mares desconhecidos e cavalgando através de todas as florestas negras. Muitos dos que tentaram não conseguiram, mas abriram caminhos e despertaram vontades para que outros conseguissem.
A luz surge no caminho se a soubermos procurar. Para isso temos que ousar ir além dos limites que nos impõem e também dos que nos impomos, tantas vezes sem piedade ou condescendência pela nossa humana imperfeição. Os limites em si não devem ser diabolizados. Antes pelo contrário.
Precisamos deles para nos organizarmos, em comunidade e nas veredas da nossa interioridade. Mas os limites não podem ser amarras que nos prendem ao chão como se fôssemos prisioneiros de um lugar, de uma ideia ou deste ou daquele sistema. Somos livres. Somos livres para respeitar os limites e também para os ultrapassar.
Temos que respeitar tudo e todos. Mas também temos que nos respeitar. Se não pudermos derrubar os muros que se constroem à nossa frente temos que saber voar sobre eles. É preciso superar todos os obstáculos do caminho. Só assim podemos crescer verdadeiramente para seguirmos na curta viagem por inteiro em vez de nos arrastarmos em metades.
Temos que olhar para além do limite que o horizonte nos impõe. Antes disso precisamos de fitar o espelho com determinação para enfrentarmos o nosso maior inimigo que somos nós. Dizemos tantas vezes que não conseguimos fazer isto e aquilo e que já não aguentamos mais, para estabelecermos os limites da nossa (in)capacidade.
Fazemos mal. Podemos sempre mais e aguentamos mais do pensamos. Precisamos apenas de acreditar que é possível fazer mais e aguentar mais. E precisamos muito de fazer isso, por nós e pelos outros. A vida não é uma metade. É um caminho que deve ser percorrido por inteiro, como uma luz que atravessa as trevas. É tempo de fazer, de superar, para podermos ir além dos nossos limites.