OPINIóN
Actualizado 12/11/2023 09:53:19
Miguel Nascimento

A nossa vida está repleta de dinâmicas sonoras, polvilhada de ruídos que preenchem o espaço e o tempo. A ditadura das horas, dos compromissos e das correrias para isto é para aquilo, não deixam espaço para o silêncio de que necessitamos como de pão para a boca. Seguimos ao ritmo dos outros. Deixamo-nos levar no registo desenfreado dos dias que correm. Falamos muito. Escutamos pouco. Seguimos no caminho feito de ruídos e imagens que nos preenchem, deixando pouco espaço para que o silêncio se instale. Também não vamos ao encontro dele nem o queremos cultivar. Preferimos falar para não escutar. Optamos por mergulhar na confusão em vez de desenharmos silêncios, pausas e espaços de meditação. O Papa Francisco diz-nos que devemos aprender a cultivar este momento:”Aquele espaço de interioridade nos nossos dias nos quais damos ao Espírito a oportunidade de nos regenerar, de nos consolar, de nos corrigir”. Estas palavras sábias convocam-nos para marcarmos encontro connosco, para nos ouvirmos, deixando que o silêncio nos envolva com o seu manto da verdade. Naturalmente, temos receio do silêncio e desse diálogo que certamente se instalará com a nossa nudez interior. O barulho disfarça os dias. Entretém-nos e faz-nos seguir com os outros, no ritmo colectivo feito espuma de todos os mares da superficialidade. Os tempos que vivemos são duros, alucinados e cheios de pressão. Por isso, com diz o Papa, precisamos de recuperar esta dimensão contemplativa da vida aberta pelo silêncio, apesar de “(…) todos sabemos por experiência que não é fácil: o silêncio nos assusta um pouco, porque nos pede para entrarmos em nós mesmos e encontrarmos a parte mais verdadeira de nós. Tanta gente tem medo do silêncio e precisa falar, falar ou ouvir rádio, ver televisão, mas não pode aceitar o silêncio porque tem medo.” Temos que enfrentar os nossos medos e combater os nossos fantasmas. Temos que enfrentar os desafios e travar todas as batalhas, combatendo o nosso inimigo que, regra geral, somos nós. Se quisermos ser inteiros temos que ir ao encontro da verdade que está em nós. Mas só conseguiremos alcançar esse patamar se estivermos em silêncio, sem medo da quietude. Aí, nessa geografia do tempo que temos que saber construir, calaremos a voz para exaltarmos a escuta. A verdade chegará, tranquilamente, feita de luz e pão para o caminho.

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