OPINIóN
Actualizado 05/11/2023 09:08:40
Miguel Nascimento

Há dias um amigo do coração, habituado a percorrer os caminhos de Santiago , dizia-me que no silêncio apenas interrompido pelos passos encontrava momentos de felicidade. Eu argumentava que era tudo, a viagem, o grupo (conhecem-se há anos), o caminho, a aventura, o momento, enfim, tudo o que a peregrinação promove e envolve. Mas o meu amigo insistiu que ratificava isso tudo e que cada viagem era uma viagem. No entanto, reforçou que apesar da paz e da alegria que o grupo e o caminho proporcionavam, eram os momentos de silêncio (que certamente todos escutavam) que proporcionavam a felicidade a espaços. O caminho, como disse o poeta António Machado ao caminhante, “son tus huellas, el camino y nada más; caminante, no hay camino, se hace camino al andar.” Todos precisamos de encontrar a felicidade nem que seja a espaços. Mas temos que caminhar para ela, proporcionando momentos de silêncio para que nesse encontro connosco ela se possa revelar. O povo diz-nos, na sua imensa sabedoria, que não há mal que sempre dure e bem que nunca acabe. Por isso, entre um estádio e outro que fazem de nós o que somos, precisamos de encontrar os equilíbrios necessários para seguirmos em frente no caminho. Nem sempre é fácil alcançarmos a ponderação para, sempre que pudermos, nos lançarmos nos braços da felicidade. O caminho ajuda. O que existe e o que vamos construindo com os nossos passos, tantas vezes feitos de silêncio e recolhimento. É justamente aí, quando eliminamos todos os ruídos à nossa volta que criamos as condições para nos encontrarmos connosco. Precisamos muito disso. E às vezes, por causa da agitação da vida que levamos, feita de correrias desenfreadas, vamos adiando e esquecendo que nós somos a prioridade. Como nos disse António Machado, “Al andar se hace el camino, y al volver la vista atrás, se ve la senda que nunca se ha de volver a pisar. Caminante, no hay camino, sino estelas en la mar. “ Na verdade, o caminho que se faz caminhando é o tempo que é nosso por inteiro e que deve ser consolidado na nossa interioridade para nos deixarmos revelar. A felicidade e o seu contrário não são estádios em permanência. A vida é mesmo assim. Precisamos dos dois para nos equilibramos e valorizarmos o melhor de cada momento, seja bom ou mau. É também por isso que, de vez em quando, devemos procurar o nosso silêncio nos passos do caminho para falarmos connosco, a sós.

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