OPINIóN
Actualizado 29/10/2023 11:58:38
Miguel Nascimento

Há muito que me inspiro numa frase de enorme sindicado (pelo menos para mim) de Miguel Torga: “O destino destina, o resto é comigo.” Na minha leitura muito individualizada, esta expressão assume uma voz de comando, uma linha orientadora, uma luz no caminho que sigo com determinação. Deixo uma margem larga para o que acontece nesse alinhamento cósmico que o destino nos oferece; tudo o que é espontâneo, natural, feito de espanto e descoberta. Essa disponibilidade deixa que a surpresa surja no caminho e também que a magia aconteça. Precisamos sempre de papel mágico que embrulhe ou construa a realidade, tornando-a mais leve. Mas o resto é comigo. Entrego-me ao caminho com energia e determinação. Empenho-me por inteiro ao percorrer os quilómetros de cada etapa. Nunca fui de metades. Sigo em frente. Procuro o que desejo encontrar. Vou com esse propósito. Mas tantas vezes encontro o que não procuro e outras tantas encontro-me, descobrindo em mim o que desconhecia. A viagem é sempre uma descoberta de nós. Um encontro connosco, apimentado por tudo o que existe e acontece à nossa volta. Somos influenciados e influenciamos. Aprendemos e ensinamos. Fundamo-nos e refundamo-nos as vezes que forem necessárias. Caímos e levantamo-nos vezes sem conta. Continuamos a viagem contemplando a metamorfose que acontece em nós. Vamos-nos modificando em função do desfasamento que acontece entre o que procuramos e encontramos. Às vezes é uma sorte não encontrarmos o que procuramos. É uma sorte não alcançarmos o que desejamos. No lugar da humana frustração surge a novidade e a surpresa do que não era esperado ou procurado. Estes momentos não são espaços de substituição da frustração ou desculpas esfarrapadas por não termos o que desejávamos no início do caminho. A frustração e as derrotas têm que acontecer para aprendermos com elas. Para reforçarmos a nossa armadura. Para nos tornarmos mais fortes. Depois, se deixarmos que o destino destine e se estivermos disponíveis para encontrarmos o que não procuramos, acontecerá em nós o que tem que acontecer. É isso será uma enorme felicidade. O nosso caminho, a viagem que temos que empreender por aqui é, acima de tudo, uma geografia de disponibilidade para nós e para os outros. Saibamos abrir as portas para que a luz possa entrar e iluminar os nossos corações.

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