OPINIóN
Actualizado 09/10/2023 08:01:35
Miguel Nascimento

“O homem vê no mundo aquilo que carrega no coração…” Goethe

Tenho reflectido muito sobre a viagem que cada um de nós faz até que o “homem da barca” nos queira levar para a outra margem, onde repousaremos pela eternidade fora. Até esse momento, cada dia conta. Cada minuto conta. Não há tempo a perder. A viagem é breve. É mais breve do que, muitas vezes, pensamos. Por isso temos que a aproveitar da melhor maneira possível, saboreando os dias de sol e também os outros que nos abraçam com as suas tempestades.

Em cada folha do livro da vida que vamos escrevendo devemos dar o melhor de nós, como se fosse a última, a derradeira. A nossa comunidade e as geografias em que nos movimentamos serão sempre o que fizermos delas. A nossa demanda é tão pessoal como colectiva. Não somos nada sem os outros. E em cada pensamento ou atitude somos sempre mais do que nós na medida em que nos constituímos como resultado da interacção com os que estão à nossa volta e que vamos encontrando no caminho, sempre feito de surpresas e espanto. Por estes dias deposito o meu olhar numa frase do escritor e filósofo alemão Goethe: “O homem vê no mundo aquilo que carrega no coração…”.

Se prestarmos atenção ao que nos rodeia, sempre nessa tentativa de vivermos a vida para além do cumprimento do estado de sobrevivência, percebemos que os corações que carregam pesos, mágoas e escuridão vão-se expressando de maneira sombria. Nem sempre prestamos atenção aos detalhes. Mas os detalhes importam. E são eles que, por vezes, nos revelam a essência das coisas e, sobretudo, das pessoas. Cada um de nós carrega no coração a sua história. E, à medida que vamos caminhando, o nosso coração, fruto da experiência de cada dia, vai-se enchendo de coisas boas e más. Nem sempre tudo o que nos acontece é bom, mas também nem sempre tudo é mau. Há sempre coisas boas a retirar de uma experiência má. A caminhada, a nossa viagem, é um processo de conhecimento e aprendizagem.

Devemos promover o equilíbrio, acarinhando e guardando as memórias boas que vamos coleccionando para que elas sejam luz nos tempos mais sombrios. Também devemos deitar coisas fora, aliviando o coração, para que ele não siga tão carregado. Esta tarefa não é fácil e também não está ao alcance de todos. Por isso, precisamos cada vez mais uns dos outros para nos entreajudarmos a carregar os fardos mais pesados e também a levar luz onde ela faz mais falta. Só assim podemos limar as nossas arestas, esculpindo-nos por dentro para deixarmos o coração respirar a bondade que a humanidade encerra. Apesar do grandioso sol que nos ilumina o caminho, sabemos que os tempos que vivemos são absolutamente sombrios.

Há homens que vêem tudo negro porque, infelizmente, o seu coração está carregado de escuridão. É preciso combater isso com todas as nossas forças para que a esperança seja sempre a estrela que nos conduz para além do que a nossa vista alcança. Não podemos mudar o mundo. Mas podemos mudar-nos e contribuir para a mudança à nossa volta. Se assim fizermos, a nossa caminhada tornar-se-á mais leve e, certamente, mais feliz. Aproveitemos a vida enquanto ela dura para a podermos ver com um coração repleto de luz e alegria.

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