OPINIóN
Actualizado 27/02/2023 07:59:54
Miguel Nascimento

Uma sociedade alavancada nas novas tecnologias estimula-nos a fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Empurra-nos para um sistema multitarefas onde parece que fazemos muitos mas, na verdade, não fazemos nada, nem prestamos atenção e cuidado a nada nem a ninguém. Seguimos nas filas dos transportes ou de outra coisa qualquer com os olhos coladas aos nossos aparelhos de comunicação. Seguimos em frente com os olhos colados ao ecrã e em direcção ao chão. Andamos de cabeça baixa. Não olhamos para o alto. Não observamos o que nos rodeia, pelo menos o que acontece em cima. Estamos de olhos presos a outros mundos e a multitarefas que nos ocupam o tempo. Queremos fazer tudo e não fazemos nada. Cansamo-nos. Reclamamos do tempo cheio e ocupado mas ficamos com a sensação de não termos feito nada. O tempo é um bem precioso. Mas desperdiçamo-lo com frequência nesta nossa ânsia de queremos fazer tudo, não fazendo nada. A nossa atenção dispersa-se. Estamos aqui querendo estar ali. Focamo-nos numa coisa estando a fazer outra. Dividimos a nossa atenção. Multiplicamo-la. Perdemo-nos com facilidade, de nós e dos outros. Somos malabaristas sem sucesso. Deixamos cair as tarefas como se fossem bolas que não seguem a magia do arco perfeito, estatelando-se em baixo sem arrancar aplausos. Queremos fazer tanto que os nossos gestos se tornam atabalhoados. Perdemos foco e qualidade. Perdemos tempo pensando que o estamos a ganhar. A nossa opção é errada, mas segue em linha com a era “multitask” e com um finíssimo toque de modernidade. Estamos em tempo e no tempo. Mas estamos fora de nós e dos outros. Somos e não somos entre tarefas. Na verdade devíamos fazer uma coisa de cada vez para a podermos fazer melhor e apreciar a vida como ela é, olhando para baixo e para cima e também para todos os lados, enchendo o coração. Precisamos de relaxar, deixando que a tecnologia nos favoreça em vez de nos escravizar. Somos nós que temos o comando na mão. Usemo-lo em nosso proveito. Por vezes, a melhor tarefa que podemos fazer é carregar no botão de desligar para nos conectarmos connosco, com os outros, com a natureza e o ambiente que nos rodeia. A vida é só uma. E se fizermos uma tarefa de cada vez podemos ter uma vida melhor, mais completa e qualificada. A ansiedade das coisas diminui-nos. Derrota-nos. Em vez de olharmos para baixo temos que olhar para cima, aceitando que cada coisa tem o seu lugar, a sua vez. Se fizermos uma coisa de cada vez seremos nós por inteiro, deixando de ser metades daqui e dali.

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