OPINIóN
Actualizado 05/02/2023 21:11:51
Miguel Nascimento

Quando o frio aperta recorremos a tudo o que podemos para nos aquecermos. No meio das soluções , à medida do gosto e da carteira de cada um, encontro na lareira a companhia para um caloroso abraço fraterno. Mesmo que o gelo procure invadir o corpo e a alma lá estará a chama ardente, sempre fiel, para nos ajudar nesse combate. Coloco mais um pau e outro. Revolvo-os com o ferro para que se alinhem em labaredas que nos confortem e nos transmitam a tranquilidade necessária para equilibrarmos os dias agitados. Fito o fogo. Vejo com arde. Deixo-me embalar como se o seu crepitar fosse uma canção de embalar que nos adormece pela noite dentro. Recordo-me de Mário Quinta, das suas palavras feitas de poesia, para reforçar que “A vida é um incêndio: nela dançamos, salamandras mágicas.” E depois da noite longa ou da madrugada que chega fria, o “que importa restarem cinzas se a chama foi bela e alta? Em meio aos toros que desabam, cantemos a canção das chamas! Cantemos a canção da vida, na própria luz consumida…”

Repouso os olhos no fogo que arde e aquece por fora e por dentro. Canto a canção da vida procurando que a chama da esperança nunca se apague. O avançar das horas adormece-me no cansaço sonolenta que o final dos dias sempre trazem. Entretanto o gato enrosca-se. Também procura agasalho e conforto. Sabe que ali é o lugar certo do aconchego que todos merecemos. De vez em quando acordo e deparo-me com um cenário de cinzas e uma chama que quase se esvai. A lareira que embala precisa de mais um tronco e de um sopro leve para que a demanda calorosa continue como a vida, feita de combates e canções de embalar. A chama não se pode apagar. Faz muito frio lá fora. Por isso temos que dar à lareira a atenção que merece. O felino agradece. Ronrona e acalma-nos também. Amanhã é outro dia. Este já passou. Está cumprido. Venham novas chamas calorosas, novos abraços fraternos e, sobretudo, novas e renovadas brisas de esperança que agarrem o futuro que está aí à nossa mão, tal como um pau que se mete na lareira para que a chama possa continuar para nos continuar a embalar.

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