Avanço na estrada mesmo sem saber a que destino ela me pode ligar. Não tenho mapas. Não sei caminhos de cor como nos diz Fernando Namora porque, tal como ele, na minha vida a bússola nem sempre atrai ao mesmo norte. Já percorri estradas de luz e veredas da interioridade. Já subi montanhas e atravessei túneis de escuridão. Nem sempre as coisas estão certas ou erradas. Há toda uma dinâmica que acontece na viagem. O encanto da surpresa é sempre um momento sublime. Por vezes os mapas não servem para nada na medida em que nos indicam os caminhos feitos, os que se encontram andados e esgotados em pés gastos de tanto andarem nas mesmas voltas. O tempo de amanhã desafia-me sempre a construir novos caminhos, nem sempre promissores, mas repletos de encanto e aventura. Desenhá-los não é tarefa fácil. Exige-se um coração que flui tantas vezes para lado nenhum. Entretanto, no percurso encontramos tantas portas e janelas fechadas e outras que se abrem de par em par. Não sabemos por onde vamos. Basta que saibamos por onde não queremos ir. Os caminhos querem-se livres. É também por isso que não os devemos saber de cor. A descoberta é sempre um suplemento de alma, um sopro forte nas velas deste barco em que avançamos. Os caminhos do mundo devem desencontrar-se com os ponteiros de um relógio velho para que nem sempre tudo esteja certa ou errado. Importamo-nos muito com o cumprimento das linhas previamente estabelecidos para não nos desmandarmos do carreiro. O que é que os outros vão dizer se formos por ali onde parece não haver caminho. Mas é justamente isso o que, de vez em quando, devemos fazer para recarregarmos as baterias da nossa liberdade. Podemos e devemos andar nos caminhos do mundo que já foram mil vezes percorridos. Aprendemos sempre com os seus trilhos fundados numa experiência ancestral. Mas também temos que aprender a fazer outros enquanto nos desafiamos para águas profundas e geografias sem pontos cardeais. O instinto liga-se ao coração e ilumina os passos que dermos em direção aos lugares para onde queremos ir mesmo sem sabermos o que são ou onde estão. Se fizermos isso oxigenamos-nos e erguemos vidas para além da sobrevivência, percorrendo caminhos que não sabemos de cor.