OPINIóN
Actualizado 11/09/2022 09:29:09
Miguel Nascimento

Temos que aprender a confiar. Em nós e nos outros. Não é uma tarefa fácil em tempos tão gelatinosos e excessivamente marcados por geometrias egocêntricas e individualistas. O caminho segue repleto de corridas numa espécie de solidão acompanhada. Todas guardam o segredo do passo seguinte. Ninguém confia uma palavra, um gesto ou um indelével sinal. O segredo é a alma do negócio. E numa sociedade tão competitiva não se pode confiar em ninguém. Como temos medo de errar não confiamos. Não queremos ficar para trás. Por vezes as tentativas do caminho da confiança não foram boas. Confiámos e fomos traídos. A desilusão instalou-se no nosso coração. Desmobilizamo-nos desse propósito. Por isso seguimos em frente de forma hesitante procurando fechar em vez de abrir. Seguimos em frente mas não avançamos. Seguimos viagem sem viajar. Acertamos na mecânica com o coração desregulado. A mágoa instala-se. A vida passa mesmo que sigamos em frente. Viver é mais do que caminhar, colocando um pé em frente ao outro. Viver é confiar e errar. É não nos iludirmos com a perfeição. É acreditarmos em nós e nos outros. É abrirmos portas em vez de as fecharmos. É avançarmos sem medo de errar e de confiar. É não desistir. Avançar é isso. É abrir o coração e as comportas da confiança. Se não nos iludirmos não nos magoamos. Mesmo com as marcas gravadas de todas as desilusões temos que continuar a alimentar o nosso lado luminoso, deixando entrar em nós o sol, o vento e o mar. As sombras estarão presentes no nosso trajecto. Mas ficarão sempre para trás se nos virarmos para a luz e para a esperança que ela representa. Se confiarmos em nós também podemos acreditar e confiar nos outros. E se todos confirmas mesmo sabendo que podemos errar, estamos a diminuir o espaço em que cabem as desilusões, tornando-o cada vez mais pequeno, mas alargando o campo oposto para que se encha de força e luz. A confiança é uma coisa extraordinária. Não a devemos desperdiçar. A desilusão acontece não por confiarmos em demasia mas, sobretudo, pelo facto de nos iludirmos com a perfeição que não existe. Tudo se quebra. Todos erram. Todos falham. Apesar disso mantemos a confiança em nós e nos outros. E seguimos de coração aberto apesar de todas as circunstâncias do caminho. Afinal tudo isto é uma passagem breve.

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