OPINIóN
Actualizado 05/06/2022 16:26:31
Miguel Nascimento

Tenho um amigo que identifico aqui, de forma simbólica, como o “homem das oliveiras”. Admiro o seu posicionamento perante a vida. Abraça causas, entrega-se aos outros, amanha a terra e, entre muitas outras coisas, faz-se ao caminho. Na verdade ele é um peregrino. Um caminhante à procura de se encontrar e reencontrar todas as vezes que forem necessárias. Há dias, numa das suas etapas do “Camino” enviou ao seu grupo de amigos a frase que dá título a este texto, acompanhada de uma fotografia que refletia o seu estado de liberdade, em perfeita comunhão com a natureza. Contemplando a imagem e bebendo a dimensão humana que a frase deixa correr pela alma dentro, percebemos que devemos ir mais devagar, sem pressa, uma vez que apenas temos que chegar até nós. Afinal é tudo tão simples, apesar de insistirmos na complicação, correndo demasiado depressa para geografias em que não nos conseguimos encontrar. A frase que o meu amigo nos enviou é do poeta espanhol Juan Ramón Jimenez que, por sua vez, embrulha um poema lindíssimo que nos interpela com uma força extraordinária:

Vai devagar, não corras,

pois onde tens que ir é a ti só!

Vai devagar, não corras,

que o menino do teu eu, recém-nascido eterno,

não te pode seguir!

O caminho é o nosso. O verdadeiro encontro é connosco. Mas para que isso aconteça temos que ir mais devagar, sem correrias loucas e desenfreadas. Os sinais estão por aí no caminho da nossa vida. Temos que lhes prestar mais atenção para depois não concluirmos que é demasiado tarde. Só temos um tempo, o nosso. É curto, muito curto. Para o saboreamos temos que ir devagar, sem pressa, para que o menino que há em nós, recém-nascido eterno, nos possa seguir. O destino do caminho não é a chegada. É a viagem. Somos nós, sem pressa de chegar mas desejosos de viver.

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