Todos temos um tempo. Uma conta do tempo e um tempo que conta. E se tivéssemos que prestar contas pela forma como gastamos o nosso tempo, podíamos não ter tempo para ajustarmos a conta do tempo que já foi e não volta. Por isso, temos que gastar bem o tempo que temos à nossa disposição para não nos perdermos na nossa conta do tempo, como se tivéssemos que prestar contas a alguém ou a alguma entidade a todo o tempo. Medito sobre o tempo através da inspiração chega pelo poema “conta e tempo” (séc. XVII) de Frei António das Chagas, franciscano e poeta da portugalidade:
Deus pede estrita conta de meu tempo.
E eu vou do meu tempo, dar-lhe conta.
Mas, como dar, sem tempo, tanta conta
Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?
Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado, e não fiz conta,
Não quis, sobrando tempo, fazer conta,
Hoje, quero acertar conta, e não há tempo.
Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta!
Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,
Quando o tempo chegar, de prestar conta
Chorarão, como eu, o não ter tempo...
Na verdade não quero chorar por não ter tempo de prestar conta pela forma como gastei o meu tempo. Todos erramos e acertamos. Todos perdemos tempo. Todos nos perdemos até nos encontrarmos. O tempo voa. Foge-nos entre os dedos como a areia da praia. Por isso, temos que viver enquanto é tempo. E isso significa, entre muitas outras coisas, que devemos valorizar o que verdadeiramente importa e desvalorizar o que apenas nos faz perder tempo. O tempo conta. E a nossa conta do tempo precisa de estar em dia. A conta e o tempo balizam o caminho que fazemos e todas as nossas escolhas. Façamos conta e não de conta que temos um tempo para gastar é uma vida para abraçar.