OPINIóN
Actualizado 19/12/2021
Miguel Nascimento



Na vida todos enfrentamos tempestades. As que vêm da natureza e as outras, as que são provocadas pela natureza dos homens. Umas e outras têm que ser enfrentadas com coragem e resistência. Depois delas passarem temos que colar os cacos do que resta, solidificar o que foi partido e seguir em frente. Ao longo do caminho e em função das múltiplas tempestades que vamos conhecendo e enfrentando vamos também afinando a nossa abordagem. Vamos aprendendo. A sabedoria oriental diz-nos que "em noites de tempestade as árvores rígidas são as primeiras a quebrar, enquanto as árvores flexíveis se curvam para deixar o vento passar." Na verdade nunca sabemos como enfrentar tempestades até enfrentarmos muitas. Ainda assim há sempre lugar para todas as surpresas. Por isso, e tendo em conta o que nos diz a experiência da sabedoria da ancestralidade do oriente percebemos que a flexibilidade é uma postura a adoptar se quisermos sobreviver aos ventos fortes que por vezes sopram de todos os quadrantes. Ou seja, se os enfrentarmos de forma rígida, podemos quebrar. Se nos flexibilizarmos podemos resistir melhor às adversidades da natureza e das outras, continuando o caminho de aprendizagem. No entanto e apesar de pensar muito sobre os ensinamentos dos sábios digo para os meus botões que não nos devemos deixar flexibilizar demasiado, caso contrário deixamos de ser nós para passarmos a ser o que as circunstâncias e as tempestades ditarem. Em tempos complexos como os que vivemos assistimos para aí a muita flexibilização de carácter e a demasiada genuflexão e reverência aos que têm o poder de mandar fazer tempestades. Há lambecubismo a mais e robustez física e mental a menos. Tenho como referências maiores todas as árvores que morreram de pé por enfrentarem com coragem as tempestades que as quebraram. Ao mesmo tempo reconheço que não podemos enfrentar como queremos todas as adversidades que nos surgem pela frente. As vezes é mais inteligente seguirmos o conselho da flexibilização mas sem nos curvarmos a tal ponto que nos possamos partir por dentro, deixando de ser quem somos. As árvores que contemplo no horizonte são sempre histórias por contar, sobretudo as que têm troncos e galhos partidos. Gosto de ouvir todas as histórias e também de contar algumas. E assim, entre leituras e narrativas, vamos consolidando o nosso posicionamento no caminho para, com coragem e determinação, enfrentarmos os desafios do futuro. O avanço dos nossos passos acontece na neblina de todas as incertezas e apenas com uma convicção: não deixaremos de ser quem somos, apesar das tempestades.

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