OPINIóN
Actualizado 05/12/2021
Miguel Nascimento



Há dias a expressão galega "Xeito" entrou-me pela alma dentro de uma forma completamente inesperada. Estava a ler com as características de um produto feito na Galiza quando me deparo com uma frase simbólica: " Hecho com Xeito". Com o produto na mão percebo que foi feito de uma determinada maneira. Foi produzido com "jeito". Com um determinado modo de fazer que nos remete, de imediato, para uma região milenar, repleta de cultura e arte e, sobretudo, onde se respira uma espiritualidade profunda. Aquele frase é mais do que uma garantia de qualidade. É a expressão de um povo inteiro que abraça o apóstolo Santiago e que faz as coisas com "xeito", com um determinado saber fazer definitivo que é também uma combinação extraordinária de um estilo e classe no momento em que se realizam tarefas manuais, intelectuais ou sociais. Como dizem os nossos irmãos galegos há uma coisa pior do que fazer uma coisa mal, é fazê-la "sin xeito". Nem todos temos as competências necessárias para fazermos tudo bem nem qualidades inatas que nos abram caminhos mais seguros. Mas se soubermos aprender com a sabedoria do povo galego podemos fazer as coisas com "xeito", emprestando ao processo a magia e o encanto da vida. Mais do que fazer as coisas de um determinado jeito ou ter jeito para outras é fazendo as coisas com jeito que as transforma em momentos de afecto que se enchem de luminosidade. As coisas do caminho nem sempre são fáceis mas tudo o que fizermos devemos fazê-lo com "xeito" para, tal como nos disse Miguel Torga, de nenhum fruto queremos só metade. A entrega e a disponibilidade para as tarefas que realizamos e, acima de tudo, para as pessoas, são um encanto maior que devemos preservar e cultivar. Não devemos fazer por fazer ou dizer por dizer. Devemos dizer e fazer "con xeito" para que o nosso caminho tenha ainda mais sentido, enchendo-se de luz e fraternidade. Se a entrega é grande o desgaste é mais intenso. Se nos empenharmos por inteiro e as coisas não correrem bem os efeitos são devastadores. Mas de igual modo não há maior alegria do que contemplarmos uma coisa dita ou feita por nós com jeito, com o jeito de sermos nós por inteiro em tudo o que fazemos e dizemos.

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