OPINIóN
Actualizado 31/10/2021
Miguel Nascimento


A nossa viagem de vida não é feita de certezas e de rotas definidas ao milímetro. Ela acontece em mares revoltos e calmos. Às vezes desviamo-nos do trajecto conhecido e previamente traçado para navegarmos em águas desconhecidas. Outras vezes são as águas do mar que nos empurram para outras latitudes. Nesta inconstância de tempos e lugares encontramo-nos com a alegria e com a tristeza. Cruzamo-nos com coisas boas e más. Conhecemos o inesperado, o espanto e a surpresa. Somos levados a enganos, frustrações e incompreensões. Ficamos tristes e abatidos com as coisas más que nos acontecem. Desesperamos. Martirizamo-nos enquanto desejamos ardentemente que a tempestade passe para seguirmos caminho. Enquanto a bonança não surge no horizonte vivemos uma vida diminuída, tolhida, qual espelho do nossa amargura. Sabemos que os momentos maus não duram para sempre. Essa esperança alimenta a luz que vai iluminando o caminho apesar da escuridão que nos envolve. Num instante tudo muda e o céu fica limpo outra vez. As coisas começam a correr bem. Rasgamos sorrisos comedidos e seguimos em frente. Mas não celebramos muito. Não consumimos a alegria até à exaustão como se parecesse mal sentirmo-nos bem. Como se parecesse mal celebrarmos a vida em tudo o que tem de bom. Quando as coisas correm mal assumimos esse peso por inteiro. Quando as coisas correm bem assumimos só metade, como se a outra que é nossa não nos pertencesse. É aqui que está um dos nossos erros. Se os problemas devem ser enfrentados com toda a nossa energia e determinação também a celebração da alegria, das coisas boas, deve contar com a mesma dose. A exuberância da alegria é um bálsamo que devemos gastar enquanto dura. Os ciclos bons e maus não duram para sempre. É por isso que temos que aproveitar cada momento como se fosse o último, sobretudo os que são bons e que trazem a alegria até nós. Os sorrisos abertos e rasgados, as gargalhas sonoras, os abraços efusivos e os beijos apaixonados são etiquetas de momentos que devem ser prolongados até ao limite para fazermos mais pelo nosso coração e pela nossa felicidade. Quando as coisas correm bem devemos soltar a nossa alegria e deixar que ela navegue em todos os mares a que tem direito.

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