OPINIóN
Actualizado 17/10/2021
Miguel Nascimento



Muitos atravessam uma vida inteira sem se darem aos outros; sem fazerem alguma coisa para melhorarem as condições da comunidade em que vivem. Alimentam o seu egoísmo que vai crescendo ao longo dos anos como se fosse uma doença progressiva e incapacitante. Os que vivem para si estão no seu direito, naturalmente. Não os julgo. Não tenho esse direito. Felizmente cada um de nós tem a liberdade de fazer da vida o que entende e o que pode. Por isso uns fecham-se em si e enclausuram-se em redomas seguras e confortáveis. Não arriscam a partilha e a construção conjunta de um futuro para todos. Seguem, por opção consciente, um caminho protegido dos outros. Seguem pelas veredas da solidão mesmo que acompanhada. Outros seguem destino regando a partilha, o sentimento comunitário. Praticam a solidariedade e a fraternidade. Fazem coisas. Desenham mundo e novas geografias de esperança. A este propósito recordo as palavras sábias de Rabindranath Tagore: "Adormeci e sonhei que a vida era alegria; despertei e vi que a vida era serviço; servi e vi que o serviço era uma alegria." Na verdade, servir também pode ser um acto de egoísmo na medida em que é nessa acção que muitos se realizam e encontram a alegria de viver. Mas servir é um prazer incomensurável. É uma alegria que alimenta tudo o resta. Eleva-nos e metamorfoseia o melhor de nós. Os que servem fazem coisas. Movimentam-se. Agitam. Lidam com uma multiplicidade de emoções, pensamentos e atitudes. Entram em confrontos. Têm dissabores. Enervam-se. Desiludem-se. Afirmam a pés juntos que não voltam a fazer. Mas fazem. Voltam à arena e lutam pela comunidade apesar de todos os dissabores. São felizes fazendo, ajudando, servindo. Como dizia o saudoso Cónego Mário, personalidade muito querida aqui no Fundão: "quem não vive para servir, não serve para viver." Servir é uma alegria que nos enche alma. Completa-nos. Confere-nos humildade. Dá-nos caminho de crescimento. Faz-nos mais fortes ao mesmo tempo que expõe as nossas fraquezas. Humaniza-nos. Faz-nos sentir gente que respira comunidade, identidade e pertença. Viver é fazer coisas. É construir em conjunto.

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