OPINIóN
Actualizado 19/09/2021
Miguel Nascimento

Passamos a vida a procurar pessoas, caminhos e lugares onde possamos realizar a nossa felicidade e encher de luz o nosso coração. Nem sempre os encontramos. Nem sempre sabemos procurar. Nem sempre sabemos sequer o que procurar. Mas apesar dessas circunstâncias comuns a vida segue e, como referiu a este propósito Alejandro Jodorowsky, "mesmo que não saibas o que procuras, o que procuras procura-te." Não sei se todos se dão conta desta subtileza da vida, embrulhada em surpresas do destino. Por vezes julgamos que o caminho do nosso futuro próximo é aquele que está ali à nossa frente. Então avançamos para ele com determinação. Andamos para a frente e para trás em movimentos cíclicos. Mas não encontramos o que procuramos. Questionamos a escolha inicial. Duvidamos dela mas continuamos a procurar. No meio de uma procura contínua encontramos coisas, pessoas e lugares que não estavam na nossa mente quando iniciámos a demanda. As realidades que vamos encontrando não encaixam no perfil desenhado na partida do caminho. Sabemos o que queremos (julgamos nós), por isso o que encontramos não é o que desejamos. Tudo o que está programado não pode encaixar na desprogramação que acontece e no que aparece de forma aleatória. Custa-nos muito procurar com intensidade e não encontrarmos o que procuramos. Custa-nos ainda mais encontrar com facilidade tudo o que não procuramos. E nesse turbilhão de voltas e reviravoltas as pessoas, as coisas e os lugares vêm ter connosco como se fossem folhas caídas que pousam suavemente no nosso alpendre. Mas não lhes prestamos a atenção que merecem porque estamos com o pensamento focado nos pessoas, coisas e lugares que procuramos mas que, apesar do nosso esforço, ainda não encontrámos. É no meio da viagem e depois de muito procuramos que as palavras sábias de Jodorowsky começam a fazer sentido. A partir da consciência desse momento, sentamo-nos no alpendre, contemplamos a beleza do pôr-do-sol enquanto um leve brisa de final de tarde nos bate levemente no rosto, para por fim, descobrirmos que não precisamos de procurar mais nada. Afinal procuramos e não encontrámos. Mas o que não procurámos encontrou-nos. Sim, às vezes procuramos longe o que está perto. E o que está perto não precisa de ser procurado. Encontra-nos! De vez em quando devemos deixar os mapas nas gavetas para caminharmos sem destino, deixando que o destino nos encontre e nos indique o caminho certo. Aí a luz acontece e o calor da felicidade vem abraçar-nos como se não houvesse amanhã.

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