OPINIóN
Actualizado 01/08/2021
Miguel Nascimento

Um amigo contou-me que num lugar dos seus tempos de férias no Brasil observava, todos os dias ao final da tarde, muita gente a caminhar para um morro junto à praia onde se encontrava com a família. O movimento das pessoas intrigava-o por ser espontâneo, descontraído e, ao mesmo tempo, quase mecânico. Um dia, por se encontrar demasiado inquieto com a razão da caminhada diária do final da tarde, resolveu incorporar-se na coluna de gente que seguia em direção ao morro. Ao chegar lá acima sentou-se no chão como todos os outros. Fitou o horizonte como os outros faziam na esperança de ver alguma coisa que fizesse a diferença, procurando interpretar uma força maior que levasse tanta gente ali ao final da tarde. Mas não via nada para além do sol que, aos poucos, se ia aproximando da linha do horizonte, procurando esconder-se aos poucos. Quando, finalmente o sol se pôs, sentiu uma vibração enorme composta de palmas energéticas que agradeciam um bom desempenho do espectáculo que acabaram de assistir. Algumas choravam, emocionadas. Outras agradeciam aos céus mais um dia com saúde perto dos seus. Este meu amigo emocionou -se com a simplicidade daquele instante e com a disponibilidade das pessoas para abraçarem um momento natural simples e, ao mesmo tempo, repleto de significado e complexidade cósmica. Afinal a caminhada diária seguia em direção ao sol para o homenagear como símbolo da vida. Este meu amigo dizia-me, visivelmente emocionado ao descrever-me este episódio, que a gratidão que enchia o coração daquela gente era, de facto, uma surpreendente lição de humildade e também um acto de autêntica magia. Regressando ao chão que pisamos damo-nos conta que complicamos em demasia o que devia ser mais simples. Introduzimos demasiadas variáveis nos nossos caminhos incorporando muito peso e complexidade. Precisamos de nos libertar das cargas pesadas que transportamos para sermos mais livres e disponíveis para contemplarmos e amarmos as coisas e sobretudo as pessoas que importam. Precisamos de subir às elevações para contemplarmos o pôr-do-sol e agradecermos a vida que temos independentemente das nossas circunstâncias. A saúde é um bem maior. E a alegria no coração não tem preço. Contemplemos o sol que se esconde para regressar de novo em todas as manhãs do nosso caminho. O encanto da simplicidade é uma benção que não podemos deixar de cultivar se quisermos empreender uma viagem repleta de luz.

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