OPINIóN
Actualizado 11/04/2021
Miguel Nascimento

Nos últimos tempos tenho pensado muito no meu tempo e também no tempo dos outros. A vida corre desenfreada. Avança ferozmente em direcção à vertigem final. Não nos damos conta disso até que as voltas do sol nos dizem que aparentemente temos menos tempo à nossa frente. Quando somos jovens o tempo não importa, conta pouco, na medida em que reunimos em nós todos os sonhos do mundo. Somos invencíveis e infinitos na concretização do nosso caminho, forçosamente repleto de tentativas e erros. Temos todo o tempo do mundo para errar e aprender. Gastamos e desbaratamos o tempo de forma absolutamente despreocupada. Mas quando a idade avança sentimos uma pressão diferente em relação ao nosso tempo e também em relação ao tempo dos outros. Aprendemos a respeitá-lo melhor do que nossa juventude. A margem é agora mais estreita. E vai-se estreitando cada vez mais à medida que o tempo se vai gastando, parecendo-nos que nos foge com maior velocidade do que antes. Os sonhos que se cumpriram estão cumpridos. Os que não se realizaram continuam inscritos no cardápio das realizações e prioridades. Mas o tempo, esse malvado, diz-nos todos os dias para irmos apagando os sonhos porque, justamente, não há tempo para todos! Perante a evidência da dura realidade procuramos contrariar o destino e, sobretudo, a ditadura do tempo. Transformamo-nos em revolucionários e resistentes contra entre muro forte que nos impede a passagem para a realização dos sonhos que nos restam. Resistimos. Resistimos sempre porque, apesar das condicionantes e do tempo que nos foge da mão, não desistimos de nós e dos que nos acompanham na viagem. Mas é precisamente por isso e em nome dos sonhos por cumprir que devemos fazer uma melhor gestão do tempo, do nosso e dos outros, para desenharmos, todos-os-dias, geografias de prazer e de afectos. Se nós quisermos o tempo pode ser relativizado fazendo com que a vida aconteça nos momentos em que tem que acontecer. Até ao último fôlego devemos tentar concretizar os nossos sonhos fintando o destino as vezes que forem necessárias. Vamos a isso!

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