OPINIóN
Actualizado 21/03/2021
Miguel Nascimento

Há dias cruzei-me, por acaso, com a frase: "A vida pode ser como uma orquestra dirigida por ti". Passei ao lado dela de raspão e concentrado noutras melodias. Mas a frase chamou-me sem que eu percebesse isso de imediato. As palavras que a compõem despertaram-me a atenção. Voltei para trás. Contemplei-a. Interiorizei-a. Percebi que ela estava ali tranquila, impressa num cartaz, a cumprir uma função publicitária. A escolha dos criativos recaiu naturalmente sobre o seu imenso poder de atracção. Aliás, esse poder funcionou comigo. Mas isso importa pouco para o caso. Desejo apenas relevar que esta frase do maestro e compositor Fernando Velázquez é impactante e vai muito para além do sentido e sonoridade das palavras que junta. Na verdade, às vezes andamos demasiado descontextualizados de nós. Por isso, deixamos de marcar o nosso ritmo e de dirigir a grande e extraordinária orquestra que é a nossa vida. Nietzsche disse-nos que "sem música, a vida seria um erro." Concordo em absoluto. E já que podemos contar com música na nossa vida, vamos esforçar-nos para dirigirmos a orquestra que vamos construindo ao longo do caminho para que não desafine e nos proporcione grandes momentos de prazer e alegria. Como se sabe a harmonia que está presente numa orquestra tem sido utilizada ao longo dos tempos como metáfora para a caracterização de diversas estruturas complexas. O corpo humano é uma delas. Somo feitos de instrumentos que precisam de conexão e harmonia. No mesmo sentido, a nossa vida é verdadeiramente uma passagem, neste caso da sonoridade interna para o espaço exterior. Escutamos a música que vem de dentro e a que vem de fora. Construímo-nos e vamos construindo. A orquestra precisa da nossa atenção. E nós devemos dar-lhe a atenção que merece. Temos que ser responsáveis na medida em que outros dependem de nós para executarem bem as suas pautas. E nós dependemos dos outros para que a música aconteça no esplendor da sua harmonia. Não precisamos de estar sempre em pose rígida e atenta. Há sempre tempos e momentos ligeiros em que a brisa que nos sopra ao ouvido também cria musicalidade. Se quisermos ter orquestra não podemos ficar parados para ver o que acontece. Por isso, temos que realizar muitos ensaios e alguns concertos. No meio disso tudo, temos que descontrair na seriedade e trazer os momentos mais relaxantes para o centro da nossa vida. Afinal, se nos dedicarmos à orquestra somos nós que marcamos o ritmo. Vamos ao sabor da música que interpretamos e ajudamos a interpretar. Nem tudo andará afinado como sempre pretendemos. Mas, se estivermos atentos e dedicados nos ensaios podemos celebrar em dias de concertos. Na verdade a vida é uma festa, feita de orquestras e de muitos instrumentos. Afinemo-los todos para que a harmonia nunca nos falte. Afinal a orquestra somos nós! Celebremo-la!

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