Apesar da invernada os dias e as noites são maiores do que alguma vez pudemos imaginar. O tempo corre devagar num silêncio aflito. O aperto do coração revela uma angústia permanente que não se arreda das notícias de pesar e das boas novas que chegam a conta gotas. A pandemia embrulhou-nos neste manto de silêncio abafado como se fosse a agitação que precede o acordar de um pesadelo. Sonhamos na noite com dias melhores e vivemos a todas as horas os sonhos carregados de manhãs de esperança que tardam em chegar. É difícil alimentar a paciência quando o silêncio abraça os noites longas das horas contadas em desalento. Porém, o silêncio carregado também ecoa dentro de nós batendo a portas que estavam fechadas há muito. É tempo de acordar na noite que não se dorme para desenharmos pontes que nos façam alcançar o futuro de todas as liberdades. Confinamo-nos para nos desconfiarmos mais tarde, para reaprendermos o que tivermos que reaprender, para trilharmos velhos e novos caminhos que nos façam andar para a frente. Apesar do frio abro a janela para ver o silêncio. Nada se move. Nem o vento exibe uma leve brisa. Tudo permanece em quietude como se todos precisássemos de um descanso das correrias infernais em que outrora mergulhámos. Então não tínhamos tempo para nada e agora o tempo toma conta de nós. Exige-nos pensamento e atitude. Pede-nos mudança. Reclama novas direcções para não chegarmos aos mesmos becos sem saída. Antes de fechar a janela contemplo as alturas onde moram as estrelas que brilham. Também elas estão quietas apesar do tremelicar cintilante. Agradeço-lhes a luz que representam e a beleza que conferem ao tecto natural do universo e volto para o meu silêncio de dentro que é quase igual ao de fora. Porém, apesar da quietude há despertares que acontecem para que nada fique na mesma. Sim, há uma esperança que chega devagar... se todos fizermos por isso.