OPINIóN
Actualizado 10/01/2021
Miguel Nascimento

Todos gostamos de certezas e de chão firme para atravessar. Todos os dias procuramos isso, mesmo que não seja assumido. Sentimo-nos bem com a tranqulidade que esse desejo nos confere. Fazemos caminho nesse sentido apesar de conscientemente sabermos que a vida é tudo menos um mar de certezas. Por isso navegamos tantas vezes em mares revoltos e outras tantas pisamos a terra firme de todos os nossos portos de abrigo. Machado de Assis disse-nos que "o esperado nos mantém fortes, firmes e em pé. O inesperado nos torna frágeis e propõe recomeços." Nesta perspectiva e apesar da fortaleza que representa tudo o que é esperado, é precisamente no oposto que encontramos os desafios e todos os recomeços. É no abraço, sempre surpreendente, do inesperado que nos desafiamos por dentro e alimentamos o sonho que nesse "erguer de asa, faça até mais rubra a brasa, da lareira abandonar", como proclamou Fernando Pessoa. Por estes dias de frio e de aflição pandémica se pudermos contar com saúde, pão na mesa e os pés na lareira seremos certamente homens e mulheres abençoados. E não devemos pedir que o alinhamento cósmico nos ofereça mais do este "esperado" que nos mantém fortes, firmes e em pé. O sonho continuará a desenhar-se na nossa cabeça mas terá de esperar por melhores dias e ambientes mais desanuviados para que possamos retirar os pés da lareira e erguermos a asa para os lugares de cumprimento da esperança. Às vezes procuramos longe o que temos perto. E se soubermos valorizar as poucas certezas que a vida nos confere nos dias que correm encontremos a serenidade necessária para assumirmos os sonhos por inteiro que o futuro guardou para nós. Até lá o grande desafio é segurarmos o esperado com todas as nossas forças.

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