OPINIóN
Actualizado 27/09/2020
Miguel Nascimento

"As dificuldades são como as montanhas. Elas só se aplainam quando avançamos sobre elas." Provérbio Japonês

Gosto da imagem da montanha, da sua silhueta, da sua força poderosa e de tudo o que ela representa. Não é por acaso que ao longo dos tempos muitos pensadores colocaram as montanhas e a sua relação com os homens no centro de grandes reflexões filosóficas e também dos ensinamentos comuns. A montanha é um colosso que nos abraça e abriga. É um manto de ternura que nos liga à terra, à natureza e aos quatro elementos. É no seu regaço que a vida toma forma, renascendo e metamorfoseando-se tantas vezes no cumprimento do calendário das estações do ano. Mas quando olhamos para ela e que a queremos tomar como nossa sabemos que é um obstáculo muito difícil de escalar e transpor. A montanha é talvez uma das melhores representações das dificuldades que sentimos no dia-a-dia. Quando queremos exemplificar os obstáculos do caminho da nossa vida recorremos tantas vezes à montanha para nos identificarmos com o alto e o baixo, com as subidas e com as descidas. À luz deste raciocínio recordo-me do provérbio japonês que, com grande sabedoria, nos diz o seguinte: "as dificuldades são como as montanhas. Elas só se aplainam quando avançamos sobre elas." Ora, como sabemos, queixamo-nos muitas vezes das dificuldades da vida mas não avançamos sobre elas com a suficiente determinação para as aplainarmos. Desejamos que as coisas corram melhor mas não arregaçamos as mangas para, com trabalho, insistência e perseverança, as dificuldades diminuam e a esperança nos dias melhores aumente. Na verdade há muitos que se entregam ao trabalho com esforço, competência e resiliência, mas as coisas não avançam como desejariam e as dificuldades não se aplainam na linha do seu horizonte. Mas talvez por isso o irlandês Clive Staples Lewis tenha dito a este propósito que as "dificuldades preparam pessoas comuns para destinos extraordinários." Apesar de concordar com esta linha de interpretação das coisas já não sou tão optimista. Nem sempre o esforço que aplaina dificuldades conduz à edificação de homens extraordinários mas, pelo menos, coloca-os nesse caminho. E isso é verdadeiramente importante na medida em que o mundo precisa pessoas com espírito de entrega às causas que abraçam para que as dificuldades comuns se aplainem até para aqueles que contribuem muito pouco para isso. A montanha está ali à nossa frente para a abraçarmos e protegermos esperando que ela continue a segurar o tecto das estrelas para que à noite o relento tenha vento seguro. E ao pensarmos nela reflectimos sobre nós, nomeadamente em relação ao propósito do caminho. Se tivermos um propósito e uma motivação para a demanda encontraremos as forças necessárias para ultrapassarmos as nossas dificuldades. E se não conseguirmos alcançar o que desejamos pelo menos morremos a tentar. E isso é uma grande felicidade!

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