OPINIóN
Actualizado 21/06/2020
Miguel Nascimento

Todos gostamos de ter certezas sobre as coisas, possuir embarcações sólidas e robustas? e também de cruzar rotas seguras para as navegações da nossa vida. Mas, como sabemos, as ondas de todas as incertezas vieram tomar conta dos nossos dias. A realidade que conhecemos hoje pode ser profundamente alterada amanhã. A aparente segurança dos tempos que conhecíamos pode ser substituída, num ápice, por todas as incertezas dos dias seguintes. Basta um momento, um segundo, uma ignição de qualquer coisa para que tudo se altere ou modifique de forma absolutamente estrutural. Nos dias que correm, nada pode ser dado como certo ou seguro. Não vivemos tempos de guerra. Porém, os cenários repletos de dificuldades e com inimigos invisíveis cruzam-se à nossa frente todos os dias. O ar está carregado e os olhos das pessoas que sobressaem sobre as máscaras de protecção lançam olhares de intranquilidade. A pandemia que atravessamos veio aproximar o medo à nossa pele e encostar-nos à parede. Não estávamos à espera disto! Agora que estamos confrontados com esta absoluta e desconfortável realidade não temos outra hipótese que não seja a de entrarmos em combate, por nós e por todos! Este é o verdadeiro tempo novo: a geografia da incerteza! Agora é nestes mares revoltos que temos que navegar em direção ao futuro. Por isso, temos que nos preparar para embarcar nesta aventura onde não existem planos nem indicadores de navegação. Apenas com algumas certezas e com alguma esperança guardada na algibeira cabe-nos navegar à vista para seguirmos o rumo dos dias de amanhã. Os olhos das pessoas, apesar de todas as angústias, são agora os sinais que precisamos seguir para continuarmos a viagem da nossa humana existência. Em cada máscara vislumbramos os olhares que procuram saídas para os momentos complexos que vivemos. Para além da protecção individual e dos comportamentos abruptamente alterados na defesa de todos, procuramos a cumplicidade e o sentido de entreajuda para nos livrarmos disto com a maior rapidez possível. Os olhos das pessoas são agora a expressão dos rostos semicobertos e ocultados. Os olhos, os nossos e os dos outros, são agora a plataforma de comunicação empática que nos liga neste mar de incertezas. Enquanto os dias passam e contamos o tempo que falta para a solução de uma vacina, vamos resistindo como podemos e executando iniciativas que fintem o destino que não estava escrito nas estrelas. Os olhos, sempre os olhos, quais faróis que dão luz a todas as embarcações, têm agora a responsabilidade de estabelecer uma comunicação não verbal, mas absolutamente empática que traduz emoções e palavras sem lábios em rostos sem expressão. A luz dos olhos é magistral. E é ela que nos levará ao futuro e a bom porto se não deixarmos de cumprir a nossa humana condição. Se acreditarmos chegaremos lá! Se acreditarmos lançaremos as amarras ao destino apesar da navegação entre todos estes dias incertos.

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