Vivemos tempos tão duros quanto estranhos. Vivemos em ansiedade e juntamo-nos ao carreiro do pânico apenas porque os outros já lá estão. Vivemos desconfiados e com medo de tudo e de todos. A comunicação social e as novas tecnologias da informação têm uma grande responsabilidade na construção da cultura do medo na medida em que amplificam os sinais do medo e do pânico. Perante a ausência de um conhecimento mais aprofundado sobre as coisas que nos rodeiam e no quadro de uma sociedade massificada onde a educação estrutural tem vindo a ser enfraquecida em nome dos rankings, dos mercados e, sobretudo, de todos os que não querem que as pessoas sejam esclarecidas e pensem pela sua própria cabeça, instala-se, com facilidade, o sentimento de alarme geral por tudo e por coisa nenhuma. Reforço esta ideia a propósito do pânico que se está a instalar por causa do coronavírus. Quando os noticiários nos bombardeiam a toda a hora com notícias perturbadoras de pestes que se alastram a velocidades vertiginosas o medo adensa-se e as pessoas começam a ter comportamentos estranhos e pouco racionais. Na verdade, existe um vírus que é perigoso, como são todos os vírus. Perante esta realidade temos que adotar comportamentos cautelosos e, acima de tudo, seguir as instruções das autoridades e especialistas nestas áreas. Ou seja, perante esta ameaça real todos devemos ter comportamentos responsáveis para, em conjunto, conseguirmos limitar a expansão deste surto para, com medidas específicas e de natureza científica, ser contido e eliminado. Devemos ter consciência da realidade mas não devemos ter medo nem entrar em pânico. As corridas às farmácias e aos hipermercados à procura de máscaras, produtos de higienização, enlatados e outros são sinais evidentes do medo e pânico que estão instalados na nossa sociedade depois de muitas semanas com notícias permanentes sobre a evolução deste vírus à escala mundial. Não devemos desvalorizar a preocupação que todos devemos ter com este vírus. Mas também devemos adoptar um comportamento responsável perante o alarmismo que, infelizmente, a comunicação social tem vindo a alimentar. Neste cenário de pânico generalizado tentamos, a todo o custo, proteger os nossos na medida das nossas possibilidades, mesmo sem termos a certeza de nada. Sabemos das mortes que o vírus provocou e provocará. Temos medo que o vírus nos chegue. Naturalmente, temos medo de morrer. Todos temos medo de morrer. Apesar das horas e horas de exposição informativa a entra-nos pelas nossas casas a verdade é que a desinformação sobre o coronavírus é demasiado elevada. E sem informação somos manipuláveis e susceptíveis a comportamentos menos próprios. Perante o pânico instalado ecoam por estes dias as frases de um italiano anónimo que nos pede, perante este cenário, para pensarmos em todos os refugiados que têm vindo a fugir da guerra, da fome e de tantos vírus que contaminam a saúde global e a saúde dos tempos democráticos. Sendo Itália o país europeu com mais mortes registadas até ao momento por causa ou associados a este surto viral, estas palavras, vindas de um italiano, ecoam com mais força nos nossos corações. Salvar vidas deve ser o sentimento mais genuíno da condição humana. E eles perdem-se por muitas razões. E ganham-se também por outras. Por isso, e perante as dificuldades evidentes, devemos dar mais ouvidos a quem sabe e menos ao ruído instalado que apenas serve para alimentar guerras de audiências e satisfazer os manipuladores. E dar ouvidos a quem sabe é seguir as regras simples e comprovadas cientificamente. Dar ouvidos a quem sabe é evitarmos comportamentos de risco. Para além disso, se dermos ouvidos a quem sabe e também ao nosso coração, devemos ser solidários uns com os outros e contribuirmos para derrotar este vírus e todos os outros, em diversos patamares, que têm vindo a esmagar a essência da humanidade. É também por isso que temos que combater e derrotar esta ditadura do medo.