A vida é uma tentativa permanente para nos encontramos com a nossa essência. Os outros, os que estão à nossa volta, fazem parte do desafio. Sozinhos, não somos nada! Sem os outros a viagem não faz sentido. Também por isso e pela valorização desse enorme desafio que é caminhar, seguimos juntos com todas as diferenças e heterogeneidades. Porém, é precisamente no confronto com os outros que nos encontramos e nos definimos. É no tabuleiro, tantas vezes inclinado, que aprendemos a equilibrar-nos e a resistir a todos os atritos que correm na nossa direcção. Precisamos da algazarra, das diferentes personalidades de cada um, das diferentes histórias de vida, de todos os efeitos contrários, para encontramos a nossa singularidade, a nossa quietude e a nossa harmonia. Como nos disse Pitágoras, "o universo é uma harmonia de contrários". Todos os dias enfrentamos batalhas. Todos os dias enfrentamos os nossos medos. Colocamo-nos à prova a cada instante. São os outros e as suas (e nossas) circunstâncias que nos dão o combustível que nos alimenta e edifica. Neste jogo em que participamos, de forma mais ou menos consciente, procuramos sempre alcançar a harmonia, a nossa e a de todos os elementos que nos envolvem. Não é fácil. Nem todos seguem no mesmo carreiro! E há tantos carreiros por construir! E cada um tem, felizmente, a liberdade de seguir o seu caminho! A harmonia é, acima de tudo, um espaço de composição, de encadeamento de sons simultâneos. É da música e da antiguidade clássica que chega esta verdade que procuramos ao longo da nossa viagem. Nesse trajecto precisamos de música e também de conjugar muitos sons dissonantes para encontramos as melodias que os nossos ouvidos mais tarde acolherão. Nesse exercício difícil procuramos encontrar encaixes para as coisas e arrumação para as partes dispersas de um todo que se quer junto. Nesse exercício profundo que constitui a nossa construção interior nem sempre temos o engenho e a arte de escolher o caminho mais simples ou mais seguro. Vamos quase sempre por onde o nosso coração manda! Se formos verdadeiros connosco nunca escolheremos nenhuma vereda que não nos conduza até à esperança mesmo que ao longe se vislumbrem perigosos desfiladeiros repletos de brumas. Se todos falarmos e pensarmos no mesmo sentido teremos quietude aparente. Mas não teremos mais nada. Não seremos nada para além de um punhado de seres sem alma que seguem em frente mas sem direcção. Como desejamos sentir o sangue que nos corre nas veias somos como somos. Entramos nas batalhas das nossas convicções. Perdemos mais do que ganhamos. Caímos mais do que nos levantamos. Mas, como nos disse Einstein, no meio da confusão, "encontramos a simplicidade e a partir da discórdia encontramos a harmonia. No meio da dificuldade encontraremos a oportunidade". Sim, entramos nas batalhas e vamos ao encontro da confusão para ganharmos a harmonia do universo e para nos construirmos por dentro. Depois, encontraremos o que procuramos. Acima de tudo seremos mais felizes por tentarmos fazer do que com todos os resultados das nossas acções.