OPINIóN
Actualizado 09/06/2019
Miguel Nascimento

"Uma boa conversa é como o café preto; estimulante e tão difícil de dormir depois." Anne Lindbergh

Conversar é das coisas mais importantes que podemos fazer. Uma boa conversa é o melhor bálsamo que podemos encontrar para colarmos os nossos dias ao prazer. Conversar não é uma coisa fácil. Temos que estar absolutamente abertos ao outro e, acima de tudo, confiar. Quando isso acontece entregamos as nossas palavras, trocamos argumentos e enchemos a nossa alma. Há muito que as conversas, principalmente as boas, fazem parte do meu crescimento interior. Não as dispenso. Estimulo-as e promovo o seu encontro. Tenho aprendido muito com todos os que me dão o prazer de uma boa conversa. Há palavras que ganham mais sentido se forem trocadas em verdadeira fraternidade. E uma conversa franca e aberta é uma aprendizagem extraordinária em múltiplos sentidos. Aprendemos com os outros. Aprendemos mais sobre nós na medida em que nos projectamos no espelho que o nosso interlocutor reflecte. Aumentamos o nosso vocabulário. Estimulamos a nossa argumentação e, sobretudo, reforçamos a nossa ligação a quem quer estar perto de nós e passar tempo connosco. A palavra tem esse fantástico poder de nos construir e desconstruir. Mas só podemos fazer isso se estivermos disponíveis para nos entregarmos ao circuito das conversas que nos fazem homens e mulheres deste tempo para saborearmos esse momento único de conexão e simplicidade. A escritora americana Anne Lindbergh disse-nos que "uma boa conversa é como o café preto; estimulante e tão difícil de dormir depois." Na verdade, uma boa conversa não acaba com o fim da troca de palavras. Ela continua no nosso pensamento. Ganha vida própria. Sorrimos por dentro quando nos lembramos das coisas que dissemos. Rimo-nos da alegria que semeámos nesse momento singular. Choramos, tantas vezes, quando nos lembramos de palavras mais duras ou quando mergulhamos no silêncio e na ausência das palavras que dão luz ao caminho. Hoje que estamos ligados a tantas coisas, tantas tecnologias e redes sociais, falta-nos tempo para colocarmos a conversa em dia. Enviamos um correio electrónico para o colega que está à nossa frente. Enviamos um SMS para quem está connosco à mesa do restaurante e uma mensagem de WhatsApp para alguém que está noutra divisão da nossa casa. Tornámo-nos escravos das novas tecnologias e sacrificámos o nosso precioso tempo livre para nos enchermos de minudências que não interessam para nada. Temos que nos despachar, cumprir as nossas tarefas essenciais do dia-a-dia, para deixarmos espaço para a conversa que deve acontecer sem hora marcada e sem contabilizações de qualquer espécie. A mesa, o alpendre da nossa casa ou a lareira devem voltar a ser pontos de encontro para trocas de palavras e de afectos. Ao conversarmos estamos a deixar fluir as nossas vontades e a lançar redes para pescar outras. Resolvem-se muitos problemas com uma boa conversa e evitam-se muitos outros. Porém, as conversas, principalmente as boas, são momentos de prazer que não devíamos dispensar na medida em que reforçam a nossa humana condição e dão mais sentido aos dias que correm demasiado depressa.

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