OPINIóN
Actualizado 10/03/2019
Miguel Nascimento

Os pássaros conseguem antever as tempestades. Por isso, voam para longe delas. Quando os ventos fortes chegam os pássaros já voam noutras geografias. Nem sempre isso acontece. Quando a chuva vem, de repente, as aves que habitualmente cruzam os nossos céus abrigam-se nas árvores e nos beirais dos telhados. Procuram abrigo e protecção. Esperam que a tempestade passe para depois continuarem as longas viagens ao encontro do sol. Mas quando são apanhados desprevenidos aguentam firme. Enroscam-se sobre si, fecham os olhos e resistem. A maioria dos homens não consegue antever as tempestades. Por isso, não consegue afastar-se delas ou evitá-las. Nem sempre há abrigo ou alguém que os proteja das circunstâncias do tempo agreste. Quase sempre a única solução é enfrentá-las com coragem e com os mecanismos de defesa que se encontram à nossa disposição. Enquanto a tempestade se abate sobre nós temos que aguentar firmes! Temos que resistir às intempéries, às chuvas violentas e aos ventos fortes! Temos que resistir a tudo o que nos quer derrubar para continuarmos o caminho. A força das tempestades pode matar. É um risco que sempre se corre. Mas, a força que não mata torna mais fortes os que resistem. E resistir é uma condição imperativa. É também uma grande aprendizagem! Quando as nossas forças escasseiam ou começam a fraquejar inspiramo-nos nos pássaros que, apesar da sua aparente fragilidade, enfrentam as tempestades com grande estoicismo. Às vezes, também temos que nos enroscar sobre nós e esperar que a tempestade passe. Mas cada tormenta que aguentamos deve servir-nos de lição, para crescermos por dentro e por fora. A cada tormenta devemos tornar-nos mais fortes, construindo abrigos e, sobretudo, aprendendo a evitar as tempestades que chegam às nossas geografias. As chuvas fortes, as tormentas e as tempestades, fazem parte das dificuldades do caminho. São importantes para o nosso fortalecimento e também para darmos valor ao sol quando ele se apresenta diante de nós. Nem sempre o caminho é claro. Nem sempre tem luz. Por isso, temos que entrar em comunhão com a natureza e aprender com ela. Temos que saber imitar os pássaros que resistem para depois voarmos alto e ao encontro de todos os vales da nossa humana condição e de todos os sonhos que um dia sonhámos. Quando há tempestades temos que resistir! Quando há sol temos que aproveitar! E é no meio do equilíbrio entre uma coisa e outra que vamos caminhando em direcção ao destino que destina e ao outro que nós destinamos. Os homens e os pássaros têm mais em comum do que aparentemente se possa pensar. Às vezes, precisamos de prestar mais atenção à natureza e a tudo o que nos rodeia para compreendermos melhor o cosmos que nos envolve e abraça. Se estivermos atentos aos sinais aprendemos mais e melhor. Si estivermos alerta conseguimos treinar as nossas competências para evitarmos o que deve ser evitado e para enfrentarmos o que deve ser enfrentado. Sim, nós e os pássaros podemos voar longe, com ou sem tempestades à vista. Basta, para isso, que activemos a nossa vontade de fazer, ensinar e aprender. Vamos a isso que o sol espreita na geografia dos afectos. E é preciso voar para lá!

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