Os pássaros conseguem antever as tempestades. Por isso, voam para longe delas. Quando os ventos fortes chegam os pássaros já voam noutras geografias. Nem sempre isso acontece. Quando a chuva vem, de repente, as aves que habitualmente cruzam os nossos céus abrigam-se nas árvores e nos beirais dos telhados. Procuram abrigo e protecção. Esperam que a tempestade passe para depois continuarem as longas viagens ao encontro do sol. Mas quando são apanhados desprevenidos aguentam firme. Enroscam-se sobre si, fecham os olhos e resistem. A maioria dos homens não consegue antever as tempestades. Por isso, não consegue afastar-se delas ou evitá-las. Nem sempre há abrigo ou alguém que os proteja das circunstâncias do tempo agreste. Quase sempre a única solução é enfrentá-las com coragem e com os mecanismos de defesa que se encontram à nossa disposição. Enquanto a tempestade se abate sobre nós temos que aguentar firmes! Temos que resistir às intempéries, às chuvas violentas e aos ventos fortes! Temos que resistir a tudo o que nos quer derrubar para continuarmos o caminho. A força das tempestades pode matar. É um risco que sempre se corre. Mas, a força que não mata torna mais fortes os que resistem. E resistir é uma condição imperativa. É também uma grande aprendizagem! Quando as nossas forças escasseiam ou começam a fraquejar inspiramo-nos nos pássaros que, apesar da sua aparente fragilidade, enfrentam as tempestades com grande estoicismo. Às vezes, também temos que nos enroscar sobre nós e esperar que a tempestade passe. Mas cada tormenta que aguentamos deve servir-nos de lição, para crescermos por dentro e por fora. A cada tormenta devemos tornar-nos mais fortes, construindo abrigos e, sobretudo, aprendendo a evitar as tempestades que chegam às nossas geografias. As chuvas fortes, as tormentas e as tempestades, fazem parte das dificuldades do caminho. São importantes para o nosso fortalecimento e também para darmos valor ao sol quando ele se apresenta diante de nós. Nem sempre o caminho é claro. Nem sempre tem luz. Por isso, temos que entrar em comunhão com a natureza e aprender com ela. Temos que saber imitar os pássaros que resistem para depois voarmos alto e ao encontro de todos os vales da nossa humana condição e de todos os sonhos que um dia sonhámos. Quando há tempestades temos que resistir! Quando há sol temos que aproveitar! E é no meio do equilíbrio entre uma coisa e outra que vamos caminhando em direcção ao destino que destina e ao outro que nós destinamos. Os homens e os pássaros têm mais em comum do que aparentemente se possa pensar. Às vezes, precisamos de prestar mais atenção à natureza e a tudo o que nos rodeia para compreendermos melhor o cosmos que nos envolve e abraça. Se estivermos atentos aos sinais aprendemos mais e melhor. Si estivermos alerta conseguimos treinar as nossas competências para evitarmos o que deve ser evitado e para enfrentarmos o que deve ser enfrentado. Sim, nós e os pássaros podemos voar longe, com ou sem tempestades à vista. Basta, para isso, que activemos a nossa vontade de fazer, ensinar e aprender. Vamos a isso que o sol espreita na geografia dos afectos. E é preciso voar para lá!