OPINIóN
Actualizado 25/11/2018
Miguel Nascimento

A nossa vida está repleta de regras, de espartilhos e condicionalismos. Temos que os respeitar e seguir para não sermos considerados diferentes ou fora da caixa. A maioria de nós tem o desejo de seguir os padrões, seguir as normas e enquadrar-se socialmente. Ninguém gosta de ser rejeitado, posto de lado, marginalizado. Às vezes, neste jogo social, deixamos de ser quem somos para sermos o que os outros esperam que nós sejamos. A nossa autenticidade esvai-se em função dos outros. Queremos ser aceites pelos outros. Por isso, fazemos tudo o que está ao nosso alcance para seguirmos o mesmo caminho e a mesma formatação. Não ser diferente é um bom princípio para sermos aceites como iguais. E quando somos o que não somos para sermos aceites temos que usar máscaras que disfarçam a nossa autenticidade para mostrar o que não existe mas que é aceite, mesmo que disfarçadamente em comunhão com todas as regras. Nesse jogo social onde a hipocrisia reina sobre a autenticidade as máscaras pesam muito. Colocamos uma máscara num sítio para nos integrarmos melhor aí, depois colocamos outra máscara noutro sítio completamente diferente para também nos integrarmos nesse ambiente. Mudamos de sítio, mudamos de máscara. Nunca somos nós. Somos o que a máscaras exibem. Somos o que os outros esperam de nós. Somos o que os outros querem que nós sejamos seguindo todas as convenções. Neste caminho a autenticidade não existe. Nesse sentido, nós também não existimos. Somos uma sombra de nós. Uma aparência de nós. Uma falsidade! Somo um corpo com máscara que esconde o que está por baixo. E se multiplicarmos este procedimento por todos os que usam máscara percebemos, com rapidez, que estamos a construir caminhos incertos sobre chão gelatinoso onde nada do que parece é. Neste quadrante em que nos encontramos e no qual assentamos arraiais todos os dias, não temos liberdade. Somos prisioneiros das máscaras que usamos e do peso que elas têm. Não conseguimos subir ao alto para contemplarmos o horizonte. Andamos sempre em baixo e de cabeça baixa porque as máscaras pesam. Um dia, as máscaras ficarão desgastadas. Algumas vão partir-se de tanto uso. Nesse dia, ficaremos a descoberto. E talvez já não tenhamos máscaras para usar. Nesse dia, também não seremos nós, mas apenas uma espécie de nós porque fizemos o caminho todo sem autenticidade. Os disfarces são uma verdadeira tragédia humana. Nascemos e morremos entre máscaras que colocamos e tiramos consoante a ocasião. Isso não é viver. É sobreviver. É arrastar os pés no pó da estrada sem fim que não nos conduzirá a lado nenhum. É tempo de nos soltarmos de todas as amarras que nos prendem a tudo o que é falso. É tempo de quebrarmos as máscaras que usamos para deixarmos fluir a nossa autenticidade que se forjará no caminho, em todas as tentativas, em todos os erros e em todos os momentos de loucura. O rosto precisa de apanhar sol e de ser bafejado pela brisa da manhã. É no encontro com os elementos e no meio de todas as tempestades que nos transformamos no que somos, em liberdade e sem máscaras nem espartilhos. Só assim nos tornaremos mais leves. Só assim nos transformaremos no que verdadeiramente somos, sem ficarmos condicionados com a opinião dos outros que usam máscaras. É tempo de construirmos outro caminho, outro sentido de vida, outra liberdade. É tempo de mergulharmos na lago da autenticidade para nos banharmos na sua imensa humildade e sabedoria. É tempo de encontramos a felicidade, longe do peso das máscaras e de todos os espartilhos sociais. Este é o tempo de rompermos com o peso das coisas acondicionadas dentro da caixa para nos deixarmos ir ao encontro de nós, com verdade, com autenticidade!

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