OPINIóN
Actualizado 11/11/2018
Marco A. Hierro

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem

Os tempos que vivemos são vertiginosos. Frenéticos! Não temos tempo para nada! Ninguém tem tempo para nada! Quase todos correm de um lado para o outro como se não houvesse amanhã. A vida não corre devagar. É acelerada! E nós aceleramo-la ainda mais como se existisse uma necessidade imperial de gastarmos o tempo depressa. Os ponteiros do relógio avançam sem piedade. O tempo passa e quase que não nos damos conta que a vida nos foge como areia entre os dedos da nossa mão. Precisamos de reflectir sobre a qualidade do nosso tempo. Fazemos muitas coisas que não queremos nem desejamos. Gastamos mal o nosso tempo. Não nos focamos no essencial. Não nos organizamos. Não planificamos a nossa vida para realizarmos as tarefas que têm, forçosamente, que ser realizadas para ganharmos tempo para nós. Se nos focarmos nas coisas que planificamos conseguimos realizar melhor, em menos tempo e com mais qualidade. E se assim procedermos ganhamos tempo para nós. Ganhamos tempo de qualidade. E isso fará de nós melhores seres humanos, mais felizes e com mais disponibilidade para ajudarmos os outros. Mas para isso precisamos de nos colocar na agenda. Precisamos de organizar melhor o nosso dia-a-dia para executarmos o que deve ser executado, separando o essencial do acessório e, sobretudo, guardando tempo para nós, para fazermos coisas de que gostamos e que nos fazem bem ao corpo e ao espírito. Enchemos a nossa agenda com coisas absolutamente dispensáveis. Vamos a isto e àquilo. Procrastinamos quando devíamos fazer. Entretemo-nos com minudências, conversas sem sentido e comportamentos de visibilidade social que não levam a lado nenhum. Não nos centramos em nós. Vivemos em comunidade e sofremos com a pressão que ela exerce sobre nós. Vivemos numa lógica de agradar aos outros e de seguir o caminho que os outros seguem. Somos como a formiga do carreiro. Recusamo-nos a sair da linha e a provocar a diferença. Gostamos das formatações sociais e seguimos o guião de todos os tempos para não sairmos da linha porque parece mal. Não dizemos nem fazemos porque parece mal. Recusamo-nos a pensar fora da caixa. Não fazemos por não querermos ser diferentes. Não cultivamos a nossa autenticidade. Temos medo de ser iguais a nós. Não regamos o jardim da nossa genuinidade. Não cultivamos o tempo da travessia de que nos falava o professor e poeta Fernando Teixeira de Andrade: "há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." Também por isso nos devemos colocar na agenda para não ficarmos à margem da vida que passa. É tempo de ousarmos e de fazermos a necessária travessia para ganharmos qualidade para o nosso tempo.

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