"Tu, que não és senhor do teu amanhã, não adies o momento de gozar o prazer possível! Consumimos nossa vida a esperar e morremos empenhados nessa espera do prazer." Epicuro
Inspiro-me nas "Odes" de Ricardo Reis (Heterónimo de Fernando Pessoa) e no magnífico poema (que confere o título deste meu arrazoado) para alimentar e reforçar a minha filosofia de vida que, cada vez mais, vai ao encontro da necessidade de viver o presente sem pensar demasiado no ontem e, sobretudo, no amanhã. Não sei se é o tempo que me foge, da meia-idade ou de outra qualquer circunstância da razão ou da emoção, mas, na verdade, procuro abraçar os dias por inteiro, esperando cada vez menos por todos os amanhãs que chegarão no seu tempo para cumprirem o propósito de todos os amanhãs. Gosto de "colher o dia" das coisas simples, dos gestos e dos afectos. Os aromas e os sabores cruzam todos os nossos caminhos andados. Há lugares que têm cheiros que os identificam, sempre! Há cheiros guardados na nossa memória. Há caminhos que só fazem sentido quando são percorridos. Gosto de os percorrer já, hoje, agora! Julgo, começando por mim, que passamos demasiado tempo a planear coisas que não se concretizam. Pensamos nas férias que nunca mais chegam. Às segundas-feiras pensamos no fim-de-semana e no merecido descanso do guerreiro. Hoje pensamos no que gostaríamos de ser ou ter amanhã. Perdemos horas infinitas a pensar no que já passou e nos sonhos que não concretizámos. Às vezes, parece que estamos no meio da ponte, entre o passado e o futuro. Por isso, não vivemos com a intensidade que devíamos viver. A vida passa num instante. Tudo acontece num ápice. Num tempo absolutamente fugaz! Perante pressupostos idênticos, Fernando Pessoa insistia em colher o dia: "Por que tão longe ir pôr o que está perto - / A segurança nossa? Este é o dia, / Esta é a hora, este o momento, isto / É quem somos, e é tudo". O futuro é uma colecção de "agoras" e dos momentos presentes. É por eles que devemos correr! É por eles que devemos viver e agradecer o que somos e temos hoje. E enquanto mergulho de novo neste magnífico poema "colho o dia", mais uma vez! Sou mais feliz mesmo sabendo que nem tudo são rosas. Mas também sei que nem tudo está cravado de espinhos! As coisas são o que são. A vida é como é. Temos que a viver hoje e agora. Como nos disse Epicuro (filósofo grego): "Tu, que não és senhor do teu amanhã, não adies o momento de gozar o prazer possível! Consumimos nossa vida a esperar e morremos empenhados nessa espera do prazer." No tempo de hoje não declaro que sou contra as esperas e muito menos contra a planificação das coisas, dos caminhos e da vida. Há sempre um trabalho dessa natureza que precisamos de fazer. O nosso pensamento também está e estará em parte no futuro e nos dias que virão. Mas não nos podemos consumir com isso! E muito menos com o que já passou! O futuro é apenas uma hipótese e as certezas são apenas de hoje e de tudo o que está para trás. Viver hoje é beijar os lábios da vida e envolvermo-nos com quem deseja a nossa companhia na viagem! É colhermos o dia vivendo cada pormenor como se não houvesse amanhãs nem outros mistérios para lá da curva da estrada. Sim, o futuro é uma caixa de mistérios. Hoje, apenas temos a vida diante dos nossos olhos a pedir-nos, de forma simples, que vivamos cada instante com prazer e sem nos sujeitarmos à longa tortura da espera! Também por isso quero "colher o dia" para, como diz Pessoa, ser ele, por inteiro!