OPINIóN
Actualizado 06/08/2017
Miguel Nascimiento

O tempo não pára. É cruel! Segue o seu destino em velocidade de cruzeiro. No tempo certo. No tempo marcado! Avança sempre. Não volta para trás! E ao avançar deixa a sua marca. Faz das suas! Só percebemos isso quando, de um momento para o outro, nos damos conta que estamos mais velhos e que um tempo longo já passou. Essa constatação pode conferir tristeza ou alegria. Depende muito da perspectiva de cada um. Prefiro a segunda, na medida em que devemos ficar contentes quando podemos dizer que já percorremos um tempo longo no nosso caminho de vida. E devemos dar graças por isso. A vida é um bem insofismável. É uma benção muito grande, mesmo que o caminho esteja repleto de pedras! Por isso, devemos lembrar-nos, todos os dias, da sua importância e da sua beleza. Ou seja, devemos viver com a maior intensidade possível. Devemos procurar sempre a felicidade, mesmo nos dias repletos de nuvens negras! Um amigo disse-me um dia que "na vida não há coisas boas nem más, há coisas!" E mesmo nas coisas que classificamos como más há sempre ilações a tirar e aspectos positivos a registar. A vida é uma grande aprendizagem! É um caminho! E o caminho pode ser percorrido mais depressa ou mais devagar. A velocidade tem muita importância para a linha do horizonte que queremos alcançar. Julgamos que se andarmos mais depressa e levarmos tudo na frente, alcançamos os nossos objectivos e, por inerência, seremos mais felizes. Nada de mais errado! Como alguém me dizia há uns tempos, "não é por correres muito que amanhece mais depressa." Ouvi a frase com atenção, mas continuei a corrrer muito. Hoje lembro-me muitas vezes dela. E sigo mais a sabedoria que ela expressa. Na verdade o sol nasce todos os dias no tempo que deve nascer, independentemente das correrias do dia anterior. Às vezes...ou quase sempre, a velocidade que imprimimos às coisas da nossa vida não nos permite saborear o tempo que passa. E há coisas (quase todas) que devem ser saboreadas e vividas no tempo próprio. Também por isso devemos melhorar a nossa relação com o tempo. Só damos valor a isso quando o tempo nos foge ou quando queremos fazer coisas que já não podemos fazer porque o seu tempo já passou. Naturalmente, há momentos da nossa vida em que devemos correr mais depressa, nomeadamente se quisermos apanhar o comboio que dá sempre sinais de querer partir a qualquer instante. Sim, há momentos em que temos de correr muito e imprimirmos uma certa velocidade às coisas. Mas, talvez seja da idade que vai avançando, aprecio cada vez mais o tempo que corre devagar. As horas dos dias e das noites seguem o seu destino como sempre, mas aprendi a dar mais valor à qualidade do tempo e a apreciar os pormenores de cada etapa da viagem. O tempo que corre devagar não muda o destino, mas tem outro sabor, outro equilíbrio e outra beleza. E é precisamente essa harmonia que o cosmos nos oferece de bandeja que devemos valorizar mais, principalmente num tempo vertigionoso e de correrias sem fim. Se o tempo correr devagar seremos todos mais felizes e o nosso caminho terá mais luz e certamente mais esperança. A gestão do tempo é uma faculdade de cada um de nós. Por isso, se todos o deixarmos correr devagar estamos a contribuir para o tornarmos mais presente e intenso na nossa vida. A felicidade não existe durante o tempo todo! Mas a infelicidade também não! Em cada momento alto ou baixo há sempre tempos que guardaremos na nossa memória e no nosso coração. Também há muitas coisas que não dependem de nós, que não estão ao nosso alcance e que não podemos fazer nada para as alterar. Mas está ao nosso alcance deixarmos o tempo correr devagar, nem que seja a espaços, durante a nossa viagem. Sabe sempre bem escutarmos o tempo que passa, contemplarmos as estrelas e abrirmos os braços em direcção ao sol para absorvermos um pouco da sua luz e grandiosidade. Com isso, provavelmente não resolveremos nada nem afastaremos as nossas preocupações do horizonte, mas resolvemo-nos! E isso é muito importante! Quando o tempo corre mais devagar temos sempre encontro marcado connosco, para nos metamorfosearmos no que somos e também para nos apreciarmos e valorizarmos mais. E se deixarmos o tempo correr devagar teremos mais tempo para vivermos a vida como ela é, com todas as cores e com o seu intenso perfume.

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