OPINIóN
Actualizado 18/06/2017
Miguel Nascimiento

"Não importa o quão estreito seja o portão e quão repleta de castigos seja a sentença, eu sou o domo do meu destino, eu sou o capitão da minha alma" . William Ernest Henley (Invictus)

A nossa vida é um caminho. Ele pode ser largo ou estreito. Podemos escolher entre um e outro. Também podemos seguir num ou noutro em função das circunstâncias da viagem. A vida é feita de escolhas. Os caminhos também. As nossas opções situam-se entre a racionalidade e a emoção. Nem sempre conseguimos vislumbrar o cenário todo. Nem sempre fazemos as melhores opções. Erramos. Erramos muitas vezes. Também acertamos algumas. A nossa racionalidade impede-nos, por vezes, de deixarmos falar o coração para percebermos as suas escolhas. Noutras vezes a emoção tolda a nossa razão e não nos deixa ver o caminho mais à frente. Nesta coisa dos caminhos da nossa vida não há verdades absolutas nem escolhas certas ou erradas. Há opções e consequências. A liberdade da escolha é um bem insofismável. E não devemos ter medo de usar essa faculdade até ao limite das nossas forças. Podemos escolher e acertar. Podemos escolher e errar. Assumimos as consequências e seguimos pelo caminho que escolhemos. Também podemos mudar de direcção, retomar outros destinos e fazer outras viagens. Não podemos nem devemos amarar-nos a determinadas escolhas quando a decisão e o erro se constituem como pilares da nossa dimensão humana. Apenas não devemos ter medo de ir e de nos lançarmos ao caminho, seja ele largo ou estreito. O poema "Invictus" de William Ernest Henley, que também inspirou Nelson Mandela na sua grande cruzada pela liberdade, é absolutamente pragmático em relação às escolhas que devemos fazer: "não importa o quão estreito seja o portão e quão repleta de castigos seja a sentença, eu sou o dono do meu destino, eu sou o capitão da minha alma." A partir da prisão de Robben Island, Mandela conseguiu desenhar a porta da esperança por onde nos fez passar a todos para caminharmos em liberdade pela tolerância e pela igualdade entre os homens. Não quero entrar nos domínios moralistas ou mesmo nos textos bíblicos que nos falam dos dois caminhos e das duas portas. Quero apenas salientar que os caminhos estão sempre à nossa frente e que é nossa a decisão e a escolha. Às vezes, essa escolha não é fácil. Noutras somos quase empurrados para um determinado caminho. Mas, enquanto levarmos no alforge a razão e a emoção, podemos sempre fazer e refazer as nossas escolhas em função da preservação da nossa dignidade e da nossa liberdade. Cada um de nós tem um propósito de vida que está intimamente relacionado com as escolhas que vai fazendo ao longo do caminho. Na maioria dos casos não conseguimos vislumbrar o propósito das escolhas. Mas elas acontecem, por razão ou emoção. E as consequências dessas escolhas reafirmam sempre o propósito e o caminho. É também por isso que, apesar das dificuldades, prefiro sempre o caminho estreito. Não numa lógica de penitência que me faz caminhar ao encontro das dificuldades, mas sobretudo para as tentar superar. Ao empreender essa tarefa, nem sempre suportável sem dor e sofrimento, cresço por dentro e dou força ao diálogo interior. No caminho estreito não podemos levar muita coisa connosco. Só o essencial. Por isso, temos que deixar para trás o que é supérfluo e sem significado. Temos que nos libertar do que não precisamos para podermos seguir mais leves. O caminho estreito fortalece-nos e ajuda-nos a ver mais à frente, acima de tudo porque é absolutamente necessário que o façamos para não cairmos no abismo. E se nos conseguirmos segurar nas dificuldades e passar no caminho estreito, podemos ajudar os outros a superar os obstáculos. Não por sermos melhores. Mas apenas porque temos experiência e um dia ousamos percorrer o que parecia ser impossível. O coração, a fé e a esperança vão sempre no alforge. Depois só temos que acreditar e seguir em frente. Em caso de dificuldade alguém nos dará a mão porque acreditamos na solidariedade e na entreajuda como verdades do caminho estreito.

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