OPINIóN
Actualizado 04/06/2017
Miguel Nascimiento

Todos os dias temos reacções instintivas. Não damos conta disso. Mas acontecem com muita frequência apesar de tentarmos racionalizar tudo a todo o tempo. Há coisas que não podem ser racionalizadas. Mas, apesar disso procuramos as necessárias explicações racionais para nos sentirmos confortáveis com o espaço que conhecemos e onde nos movimentamos. Muitos defendem que o instinto é uma coisa e a inteligência é outra. Na verdade, o instinto é uma espécie de inteligência. Pode ser uma inteligência não racional mas que garante, por exemplo, a sobrevivência! Falamos muito do instinto animal por causa das suas reacções instantâneas face ao perigo, à necessidade de vigilância e, sobretudo, de sobrevivência. É esse instinto que tem garantido a sobrevivência das espécies ao longo dos tempos. Os seres humanos também têm um lado animal e um instinto de sobrevivência muito forte. Mas, a componente racional vai, naturalmente, ocupando o seu espaço não deixando margem para que essa vertente prolifere, com excepção para os momentos limite em que, por exemplo, a vida possa estar em causa. No nosso dia-a-dia temos que decidir sobre muitas coisas. E essas decisões são racionais ou intuitivas? Nem sempre as sabemos classificar. Nem sempre sabemos se estamos a racionalizar ou a intuir. E também nem sempre sabemos se uma determinada decisão é ou não uma intuição racionalizada. Todos temos intuição e todos decidimos em função dela. Mas, a velocidade vertiginosa a que a vida acontece leva-nos a considerar muito mais a racionalidade do que a intuição que, tantas vezes, está na sua origem. Steve Jobs disse-nos que precisamos de ter a coragem de seguirmos o que o nosso coração e intuição dizem. "Eles já sabem o que você realmente deseja. Todo resto é secundário." A intuição relaciona-se muito com o domínio das emoções, das sintonias dos desejos e também com o fluir da vida. Não precisa de estabelecer conexões nem pontes de racionalidade para que determinadas coisas aconteçam. Por isso, devemos deixar espaço e tempo para relaxarmos o nosso corpo, deixando-nos levar pelo coração. Então a intuição far-se-á ouvir. Acontecerá! É também nesse momento que nos conseguimos ouvir e podemos, com tranquilidade, conversar connosco. Esse é um exercício extremamente saudável que devíamos fazer mais vezes para nos entendermos melhor e para encontrarmos o caminho da felicidade. É um tempo de escuta e de observação. O instinto nem sempre nos conduz ao bom caminho. Não é infalível. Quantas vezes as nossas instintivas decisões nos conduzem a caminhos errados e a becos sem saída? Mas também quantas vezes decisões pensadas até à exaustão não correm bem ou não têm os resultados desejados? Por vezes não é o instinto em si que nos leva a falhar. É a motivação do instinto. E falhamos tanto pelo instinto como pela racionalidade. Mas, o instinto é o que vem de dentro. É o espelho da nossa alma. É o reflexo do que somos. Não precisamos racionalizar nada! Somos assim e agimos de uma determinada maneira. Não há verdades absolutas. O erro acontece, seja ele causado pela leveza da intuição ou pela lógica da racionalidade. O erro faz parte da nossa dimensão humana. Então, se isso acontece temos que ouvir mais vezes o nosso coração e a nossa intuição nas escolhas do caminho. Continuaremos a errar. Mas o erro será mais aceitável porque corresponde o reflexo da nossa genuinidade e não à aparência racionalizada que os outros esperam de nós. O caminho da autenticidade vai fazer-nos cair e tropeçar vezes sem fim até chegarmos à nossa derradeira viagem. Mas, voltaremos a erguer-nos porque precisamos de continuar até ao destino. E seguiremos sempre tranquilos, apesar das tempestades, porque o coração vai cheio de intuição sobre a direcção do caminho da felicidade.

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