Esta semana iniciámos um novo ciclo dos caminhos de fé. Iniciámos o tempo da Quaresma. É o tempo da reflexão interior. É o espaço para nos reencontramos. O silêncio acompanha-nos na viagem. O silêncio ajuda à nossa concentração neste propósito. Focamo-nos no caminho e avaliamos o nosso desempenho na vida. Olhamos para o céu e pedimos que a esperança seja renovada para continuarmos, com fé, a nossa longa caminhada. O silêncio acompanha-nos. Meditamos. Reflectimos sobre o tempo da nossa existência. Questionamo-nos. Desenhamos perguntas e procuramos respostas. Mas o silêncio impera. A nossa fé renova-se neste tempo dos itinerários do sentir. Mergulhamos numa densa espiritualidade. Caminhamos. Voltamos a fazer perguntas e a questionar muita coisa. Sobretudo, questionamo-nos. Procuramos respostas, uma e outra vez. Mas apenas conseguimos obter o som do silêncio. E o que é esse silêncio? Não é nada ou é tudo? O silêncio é a ausência de resposta ou é a voz de Deus que se manifesta dessa forma? Duvidamos. Sim, duvidamos muito neste tempo de incertezas e da nossa própria incerteza. Os caminhos de fé colocam-nos à prova. Seremos capazes de continuar? Seremos capazes de reforçar a nossa fé e adensar a nossa esperança apesar de todos os nossos erros e imperfeições? Conseguiremos ultrapassar os obstáculos do caminho e lavar a nossa alma? Questionamo-nos outra vez e vezes sem conta. O silêncio continua. Pesa muito no caminho. Obriga-nos a explorar a nossa intimidade até às entranhas do nosso pensamento. No caminho o coração bate com mais força. É mais verdadeiro. O eu interior ganha força. Reforça-se e renova-se. O exterior tem pouco valor. A aparência perde terreno. Debatemo-nos connosco e com todos. Queremos exteriorizar tudo mas o manto de silêncio que nos cobre remete-nos para as veredas interiores e convoca-nos para assumirmos a postura da humildade e da tolerância. E como fazemos isso se todos os dias somos convocados para territórios de competição extrema e para palcos de ódios e de intolerâncias? Nesta vida desenfreada em que se adora o individualismo somos levados pela corrente até à selva mais profunda onde matamos ou morremos. É o reino da selvajaria urbana que não tem tempo nem espaço para o silêncio e para nos reencontrarmos. A Quaresma revisita a história e a espiritualidade. Dá-nos uma oportunidade para vislumbrarmos o caminho que temos vindo a trilhar. Dá-nos uma oportunidade para emendarmos a mão e seguirmos em frente com outro brilho nos olhos e outro calor a emanar do coração. A dor e a paixão estão presentes. Caminhamos com Jesus Cristo no pensamento. Olhamos para a cruz que ele carregou por nós. Curvamo-nos perante tamanho exemplo de coragem, amor e dedicação ao próximo. A fé não precisa de demonstrações. A fé é uma linha que abraçamos porque sim. Acreditamos nela e na força que nos dá. Nos momentos mais difíceis da nossa vida ficamos mais frágeis e mais vulneráveis. Nos momentos de dor e sofrimento procuramos, na fragilidade da nossa dimensão humana, conforto na fé e na luz que ilumine o nosso caminho. A fé pode salvar-nos se verdadeiramente acreditarmos nela. Mas precisamos de acreditar nela e de a regar todos os dias para que em vez de reclamarmos a sua presença apenas nos momentos difíceis da nossa vida a tenhamos por companhia em todos os tempos de alegria. É também por isso que este tempo quaresmal deve ser vivido com fé, mas sobretudo com esperança e luz. Rejubilemos então com a caminhada! Os itinerários do sentir, apesar da sua profundidade, não têm que ser realizados no escuro e em profunda consternação. Saibamos olhar para a via sacra que Jesus percorreu. Saibamos retirar as devidas ilações para a nossa vida. Meditemos profundamente. Façamos uma absoluta mea culpa para continuarmos a caminhada com alegria e ainda mais determinação. Rejubilemos neste tempo que é nosso e que deve ser partilhado por todos os que estiverem de coração aberto. Se assim for o silêncio falará entre os caminhos de fé.