OPINIóN
Actualizado 22/01/2017
Miguel Nascimiento

Na nossa vida fazemos muitas coisas por impulso e outras com absoluta ponderação. Por vezes dizemos o que nos vem à cabeça, principalmente quando temos o coração "ao pé da boca". E muitas outras vezes ponderamos durante algum tempo o que devemos dizer para não ferirmos susceptibilidades e levarmos a "água ao moinho" de uma forma mais diplomática. Há pessoas muito impulsivas em tudo e outras muito ponderadas. E há também quem reúna um misto destas duas características fundamentais para a afirmação da nossa dimensão humana. No nosso caminho balançamos entre o coração e a razão e entre o impulso e a ponderação. As emoções do momento e a nossa extraordinária impulsividade roubam, por vezes, espaço à ponderação. Por isso, nos arrependemos de tantas coisas que dizemos e fazemos. Mas, por outro lado, sem o impulso da nossa interioridade não seríamos tão genuínos e tão autênticos. Há momentos que só o impulso pode fazer acontecer. Se ponderarmos muito o momento pode passar. E mesmo que aconteça não tem a beleza, o encanto e a paixão do impulso como se de um primeiro beijo entre dois adolescentes se tratasse. Por outro lado, se formos ponderados e se conseguirmos controlar as nossas paixões e emoções reforçaremos a nossa capacidade de promover equilíbrios e de tomarmos decisões sensatas. Por vezes devemos dizer o que as pessoas desejam ouvir mas que, no todo ou em parte, não corresponde verdadeiramente ao que sentimos. Não se trata de alimentarmos a hipocrisia mas sim de guardarmos algumas opiniões para as partilharmos com os nossos botões e, dessa forma, não criarmos dissabores ou frustrações aos nossos interlocutores do momento. Noutras vezes devemos ser absolutamente sinceros, com maior ou menos intensidade. Às vezes é preciso "partir a loiça" e desanuviar o ambiente para, com calma e em harmonia, voltarmos a colar as peças de uma jarra para que ela fique quase igual, mas diferente na sua essência. De resto, a sabedoria oriental olha para o processo de reconstrução de uma jarra partida como um tempo de reunião do que outrora andava disperso e de recomposição de algo que, estando inteiro aos nossos olhos, estava partido no nosso coração. Não sei o que devo fazer ou o que aconselhar a cada etapa do caminho. Devemos ser ponderados ou impulsivos? Não sei, sinceramente. Cada um saberá das suas escolhas em função de cada momento e, sobretudo, das suas consequências. A vida é um ensaio repleto de tentativas e erros. Não há mundos perfeitos! Há momentos bons e outros menos bons. Temos que subir e descer a montanha tantas vezes! Temos que cair para nos podermos levantar. Temos que perder para darmos mais valor à vitória. Temos que agir e reagir por impulso para valorizarmos a ponderação. Temos que ponderar muitas vezes para conhecermos a importância do impulso. Daniel Goleman, que entre muitas outras coisas tem explorado os caminhos da inteligência emocional, diz-nos que a "capacidade para fazermos uma pausa e não actuarmos ao primeiro impulso é uma aprendizagem crucial na nossa vida de todos os dias." Concordo. E é um caminho que devemos seguir se quisermos que a nossa vida tenha equilíbrio, paz e harmonia. Mas, se quisermos que a nossa vida tenha alma e paixão não devemos deixar extinguir a grande chama do impulso que, apesar de todas as suas contraindicações, é sempre um espelho da nossa mais profunda autenticidade. Por isso, a razão deve juntar-se à emoção, deixando-a fluir. Também por isso concordo com a proposta de Khalil Gibran: "a razão, reinando sozinha, restringe todo o impulso; e a paixão, deixada a si, é um fogo que arde até à sua própria destruição." Equilíbrio, precisamos de equilíbrio em tudo. É esse o campo que devemos cultivar para, em nenhuma circunstância, nos deixarmos aprisionar pelos extremos que, como sabemos, são sempre perigosos.

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