Esta noite nasceu o Menino. Hoje é um dia de luz. É Natal. Sente-se um conforto diferente. Os nossos corações estão abertos à esperança. O dia de Natal é sempre uma ponte de afectos. Há magia no ar. Sinto essa magia no ar. Não a quero perder. Às vezes, essa magia parece querer esgueirar-se ? mas não deixo. Quero-a comigo. O dia que ela me deixar a minha vida transformar-se-á num caminho sombrio. Por isso, apesar de todas as dificuldades e de alguns sentimentos menos positivos que de vez em quando se atravessam na nossa vida, devemos deixar sempre espaço para a esperança e, com ela, renovarmos os nossos pensamentos. O mundo está doente. A humanidade encontra-se em agonia. Não está perdida. Mas anda lá perto. O nascimento do Menino Jesus é um sinal que devemos abraçar com toda a força. Este Menino que dentro de pouco tempo será homem entre os homens e que morrerá, mais uma vez, para nos salvar é também o fiel depositário da nossa esperança. E se todos conseguirmos contemplar o presépio e todos os sinais que nos transmite percebemos, facilmente, que a humildade e a simplicidade têm uma força extraordinária! E se mergulhássemos mais nelas poderíamos aprender mais. O nosso caminho segue sem parar, às vezes cheio de luzes, cores, brilhantes e com tantas e tantas coisas materiais e acessórias que nos desviam do essencial. E essencial está no nosso coração que se deve apresentar simples e humilde perante o próximo. Olho uma e outra vez para o presépio. Não para um presépio em particular que o meu olhar possa resgatar mas para o que está guardado no meu coração desde a minha adolescência. Foi ele que me fez e fará conservar a magia do Natal até que a luz da última vela se extinga. Consigo olhar para ele e ver-me feliz, com as mãos cheias de musgo e a colocar, uma após a outra, as pequenas áreas do manto verde que completará o espaço, pequeno, onde todas as figuras, guardadas ano após ano com muito cuidado e carinho, darão vida a um tempo que permite todas as viagens pelo mundo dos afectos. Há quem diga que o Natal já não é o que era e que apenas fazemos coisas pelas crianças, sobretudo para lhes arrancarmos um sorriso. Isto significa que pouco a pouco vamos deixando morrer a criança que está dentro de nós e que é responsável pela magia que fomos criando ao longo do nosso caminho. E isso não pode acontecer. Não podemos deixar morrer o Natal apesar de todas as circunstâncias e sinais negros que nos chegam dos quatro cantos do mundo. Devemos olhar uma e outra vez para o presépio para encontrarmos nele as melhores respostas para o caminho. E este nosso caminho está repleto de armadilhas e zonas de perigo. Temos que andar com muito cuidado. Precisamos de luz para atravessarmos as áreas mais escuras. Precisamos das candeias dos pastores e da estrela que nos guie. Precisamos do calor dos afectos e da solidariedade entre todos para partilharmos o pouco que temos. Precisamos sentir o coração a pulsar principalmente nos tempos mais difíceis percebendo que temos gente a nosso lado que nos pode dar um abraço quando mais precisarmos. O Natal são os afectos. E hoje é tempo de beijarmos o Menino e de nos curvarmos perante a sua grandeza que se apresenta diante de nós da forma mais simples e singela. Hoje é tempo de meditarmos nesta data do calendário para conseguirmos ver a vida com outros olhos para que o tempo possa correr mais devagar e assim saborearmos melhor cada etapa do caminho. Hoje é tempo de adorarmos o Menino, de cantarmos para ele e celebrarmos esta grande bênção de podermos depositar a nossa esperança numa criança, aparentemente frágil, mas que conseguirá carregar o fardo pesado de todas as nossas insuficiências. A cada nascimento do Menino, em cada ano que passa, surge diante de nós uma nova porta entreaberta para que possamos recomeçar e seguir caminho noutra direcção. Olho para o presépio, outra vez, e rejubilo com a luz que o Menino transmite. Seguirei o caminho com esperança renovada e procurando, todos os dias, que a magia deste tempo nunca fique ensombrada pelas nuvens negras que estão sempre à espreita de uma oportunidade. Haja luz!