OPINIóN
Actualizado 06/11/2016
Miguel Nascimiento

"Quem perde seus bens perde muito; quem perde um amigo perde mais; mas quem perde a coragem perde tudo", Miguel de Cervantes

Todos caminhamos entre a coragem e o medo. Todos combatemos os nossos fantasmas. A coragem vem de dentro e é construída com o bombear do nosso coração. A vida apresenta-nos desafios sem fim e muitas pontes para atravessar. Por vezes, precisamos de recorrer à nossa coragem para ultrapassarmos os obstáculos que nos surgem pela frente, sobretudo os mais difíceis. Mas, a coragem não é "ausência de medo, é a resistência ao medo e o seu domínio", como nos disse Mark Twain. É também, na palavra de Aristóteles, "a primeira das qualidades humanas porque garante todas outras". E precisamos desta grande qualidade para enfrentarmos a vida de todos os dias, principalmente nas suas adversidades. Tal como Charles Chaplin entendo que a "vida é maravilhosa se não tivermos medo dela". Muitos têm medo. E por isso não avançam. Não caminham. Arrastam-se. São empurrados. Vão ao sabor do vento. Os que têm coragem seguem em frente, combatem os seus fantasmas, apesar de terem medo. Mas o medo que têm e que caracteriza a sua condição humana não os impede de seguirem o seu caminho. E essa é a grande diferença que caracteriza os audazes e todos os que fazem apesar de saberem que podem perder tudo, incluindo a própria vida. Esses são os que escreveram a história dos tempos e constituem os exemplos que se transformam em estrelas que nos guiam na escuridão. Miguel de Cervantes disse-nos que "quem perde os seus bens perde muito; quem perde um amigo perde mais; mas quem perde a coragem perde tudo". O próprio medo e por vezes o desespero alimentam a nossa coragem, despertando o nosso instinto mais selvagem e também a nossa utilitária noção de sobrevivência. Também por isso as circunstâncias fazem despertar em nós competências que julgávamos não possuir. E quando algo afronta a nossa sobrevivência ou nos encontramos perante uma situação limite vamos buscar a coragem que julgávamos não possuir para conseguirmos sair dessa situação. Nesses casos o medo está lá. Mas, a coragem fala mais alto. Como disse William Shakespeare "a coragem cresce com a ocasião". E nessas ocasiões que testam os nossos limites ficamos surpreendidos com a nossa capacidade de superação. Com forças que julgávamos não possuir ultrapassamos as dificuldades e seguimos em frente. O caminho também é isso. É superação. É uma aprendizagem constante. E ao aprendermos com cada experiência vamo-nos tornando mais fortes e com maior capacidade de olharmos para uma linha do horizonte cada vez mais distante que, por sua vez, nos permite ampliar o campo de visão da nossa vida. Nada é perfeito e pouco será como um dia imaginámos. A caminhada da nossa vida é sempre uma bela aventura e também uma grande prova de superação. Por isso, concordo com o que disse Paulo Coelho a este propósito: "quando alguém encontra o seu caminho precisa ter coragem suficiente para dar passos errados. As decepções, as derrotas, o desânimo são ferramentas que Deus utiliza para mostrar a estrada". A coragem pode assumir significados diferentes em cada pessoa. Há sempre muitas formas de olharmos e interpretarmos a coragem. Mas, independentemente de cada caso a coragem define-nos. Diz-nos quem somos e como nos posicionamos no caminho. A coragem significa ir em frente quando quase todos nos dizem para não prosseguirmos viagem. Mas nós avançamos, mesmo num mar de incertezas, porque queremos defender o que acreditamos. Nessa perspectiva a coragem não pode ser entendida como teimosia, mas como perseverança e resiliência; como uma forte convicção que nos dá força para continuarmos à procura dos nossos sonhos. Ao longo do nosso caminho há sempre quem nos diga que não iremos conseguir ou que não temos capacidade para chegar mais à frente. Mas quando se acredita profundamente nos que se está a fazer avançamos sempre, apesar do medo e de todas as angústias e incertezas. O nosso coração diz-nos que é por ali e é precisamente por ali que vamos, com coragem e determinação. Assim, somos nós, com todas as nossas imperfeições, mas de alma cheia e assumindo cada pequeno passo como uma grande vitória. Quando olhamos para trás agradecemo-nos por num determinado tempo termos avançado no caminho apesar de todas as indicações em contrário. Aí a coragem somos nós. Somos uma força que se ergue sempre que necessário para combatermos todos os nossos fantasmas.

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