A expressão "Carpe Diem" escrita pelo poeta latino Horácio (65 a.C. ? 8 a.C.), no livro I de "Odes", em que aconselha a sua amiga Leucone a aproveitar o dia ? cape diem, quam minimum credula postero, tem vindo a ganhar popularidade ao longo dos tempos. Esta frase cuja tradução aproximada pode ter a seguinte leitura ? "colhe o dia de hoje e confia o mínimo possível no amanhã" ? é sem dúvida um conselho extraordinário que devemos dar aos nossos amigos. Também devemos escrever a frase no espelho de nossa casa para podermos olhar para ela todos os dias! Para nos inspirarmos nela! Para a seguirmos! Às vezes esquecemo-nos de aproveitar o tempo presente. Ou vivemos demasiado agarrados ou passado ou excessivamente concentrados nos planos do futuro. Estamos em trânsito e parte nenhuma. Por isso, esquecemo-nos de agarrar a vida no tempo presente, deixando que ela nos escape entre os dedos como se de areia da praia se tratasse. Precisamos de "colher" o dia como nos recomendou Ricardo Reis (heterónimo de Fernando Pessoa) porque "Perene flui a interminável hora / Que nos confessa nulos. No mesmo hausto / Em que vivemos, morreremos. Colhe / o dia, porque és ele." Nos tempos agitados e complexos que vivemos guardamos poucos momentos que sejam verdadeiramente nossos, momentos da nossa intimidade e no nosso mais profundo interior. Andamos muito distraídos com o ruído à nossa volta. A nossa vida parece atravessar uma ponte que liga o passado ao futuro mas que se esquece de contemplar as águas do rio que passam entre as belas colunas que a suportam. Devemos atravessar a ponte, devagar, contando cada pedra de granito que a constitui e seguir todos os seus contornos ? e também as magníficas paisagens que ela nos proporciona. Se assim fizermos e se nos posicionarmos no meio da ponte, não nos esqueceremos do passado nem do futuro mas, acima de tudo, aceitaremos, com outra abertura, o conselho de Albert Camus: " a verdadeira generosidade para com o futuro consiste em dar tudo ao presente." E é precisamente sobre esta disponibilidade que devemos reflectir. Estamos verdadeiramente interessados em dar tudo ao presente? Será que não nos perdemos em demasiados projectos para o futuro que nos esquecemos de dar tudo ao presente? As coisas simples do dia-a-dia são a seiva do tempo que corre e que devemos saborear até à exaustão! Isso é viver! É sentir! É a amar! É chorar e soltar todas as gargalhadas deste mundo. A vida é feita de contrastes. De altos e baixos. De momentos bons e outros menos bons. Mas é esse carrocel que sobe e desce a toda a hora que nos devemos entregar por inteiro! Não devemos ter uma parte de nós no presente e outras espalhadas entre o passado e o futuro. Carpe diem, colham o dia! Sejam felizes! Procurem a felicidade. Não deixem, como nos pediu, Walt Whitman, de fazer algo de extraordinário nas vossas vidas. Deixem uma marca vossa! Façam por isso! Cresçam com as dificuldades! Subam à montanha e respirem o ar puro. Abram o vosso coração e continuem a sonhar, mas façam, acima de tudo, façam! Não deixem de fazer! Convertam-se em protagonistas da vossa história. Escrevam-na com o vosso punho para a sentirem melhor. Para a reclamarem sempre, por direito próprio, sempre autêntica e genuína. Devemos agarrar o que é nosso e deixar ir o que não nos pertence. Não devemos andar nem atrás nem à frente dos outros. Devemos ser nós, tal como somos, cultivando a humildade e caminhando ao lado dos outros. Sobretudo, não nos devemos render como disse Mario Benedetti, "(?) ainda é tempo / De se ter objectivos e começar de novo / Aceitar tuas sombras, / Enterrar teus medos / Soltar o lastro, / Retomar o vôo." Estamos todos a tempo e em tempo. A nossa idade é o que é. É uma pedra que marca o caminho. Por isso, devemos sonhar sempre para sermos verdadeiramente livres. E a nossa demanda passa por conseguirmos destravar o tempo, tirarmos as trancas e abrirmos as portas da vida! Carpe diem, não se esqueçam! Colham o dia e sejam felizes!