"Da caixa de Pandora, na qual fervilhavam os males da humanidade, os gregos fizeram sair a esperança em último lugar, por considerá-la o mais terrível de todos. Não conheço símbolo algum mais emocionante do que este." Albert Camus
A conhecida expressão "a curiosidade matou o gato" diz muito sobre os gatos e também sobre as pessoas. Os gatos são animais curiosos por natureza. A curiosidade é uma característica marcante destes felinos que há muito partilham as nossas vidas, dentro e fora de casa. Na Idade Média, tempo extraordinário e espaço para todos os imaginários e superstições, julga-se que as pessoas não gostavam de gatos, principalmente dos pretos, quase sempre associados à má sorte e a mistérios indecifráveis. Perante animais tão ameaçadores em tempos de "caça às bruxas" as pessoas produziam armadilhas para os capturar. A curiosidade natural dos gatos, dos pretos e dos outros, faziam-nos cair nessas armadilhas que, regra geral, não tinham um final feliz para os bichanos. Ao longo dos tempos esta expressão foi ganhando mais espaço na vida das pessoas e perdendo terreno na vida dos felinos. As pessoas são ainda mais curiosas que os gatos! Por isso, a frase - " a curiosidade matou o gato" é associada, com frequência, a situações de alerta no sentido de as pessoas não se meterem em assuntos alheios porque as coisas podem correr mal. É um apelo à contenção e um limite à ingerência de alguns em determinados assuntos. A expressão quererá dizer, em determinadas circunstâncias, "não avancem mais", ou "fiquem por aí porque, lembrem-se, a curiosidade matou o gato". Partindo desta expressão da idade média podemos recuar ao tempo da mitologia grega para contemplarmos a "Caixa de Pandora". Este artefacto da mitologia, esta caixa, que na verdade era um jarro, que foi dado a Pandora, a primeira mulher criada por Zeus, e lançada no mundo dos homens para equilibrar as coisas entre a humanidade e o Olimpo. Pandora foi criada com todas as belezas e qualidades para sedução dos homens e apenas com um defeito, a curiosidade. Zeus criou a "caixa" e nela encerrou todos os males do mundo. Sabia que em função da curiosidade de Pandora, mais cedo do que tarde, ela abriria a caixa, ou jarra, espalhando todos os males pelo mundo, castigando assim a humanidade pelo fogo que havia recebido de Prometeu contra a sua vontade. A curiosidade de Pandora, tal como a dos gatos, era imensa! Por isso, um dia abriu, por breves instantes, a caixa para ver o que ela continha. De imediato, escaparam todos os males que até aí os homens não conheciam: a doença, a guerra, a velhice, a mentira, os roubos, o ódio, o ciúme?entre outros. Muito assustada Pandora fechou, de imediato, a caixa. Era demasiado tarde! Todos os males tinham saído da caixa para castigarem os homens, cumprindo-se a vontade de Zeus. Entretanto, no fundo da caixa tinha ficado uma coisa muito pequena que ocupava pouco espaço e que dada a sua timidez não tinha saído: a esperança! A esperança tinha ficado na caixa e, nesse sentido, não foi vítima da curiosidade! Não morreu! Também por isso se diz que a esperança é a última coisa a morrer. E se a esperança ficar sempre guardada no fundo dos nossos corações pode expulsar os males do mundo e combatê-los para alimentar sempre a luz do caminho. A esperança, no contexto da caixa de Pandora foi considerada um mal, provavelmente o mais terrível de todos, na medida em que alimentava nos homens a ideia de um espaço que não existe. A este propósito Albert Camus disse que "da caixa de Pandora, na qual fervilhavam os males da humanidade, os gregos fizeram sair a esperança em último lugar, por considerá-la o mais terrível de todos. Não conheço símbolo algum mais emocionante do que este". Concordo com a visão de Camus. Mas, é precisamente esse mal terrível e símbolo tão emocionante que dá pelo nome de esperança que constituirá a salvação da humanidade. As coisas boas guardam-se junto ao coração. E é lá que as vamos buscar quando queremos combater os males da nossa vida que foram libertados por todas as curiosidades do mundo. Não, não queremos morrer. Por isso, nos agarramos tanto à esperança!