OPINIóN
Actualizado 21/08/2016
Miguel Nascimiento

Os tempos são cada vez mais voláteis. Têm mais espuma do que água fresca. Vive-se muito pela rama. Pelo parece que é. Falta substância. Faltam referências. As referências que nos guiam fazem caminhos muito difíceis. E nós não estamos para isso! Queremos tudo depressa. Queremos tudo fácil e imediato. Queremos glória sem merecimento. Os tempos não estão para isso! São duros e ao mesmo tempo voláteis! O caminho é difícil e repleto de buracos negros e gelatinosos. Há muitas coisas que queremos agarrar mas não podemos porque nos fogem das mãos. São escorregadias e gelatinosas. Têm pouca ou nenhuma substância. Também há pessoas assim, escorregadias, gelatinosas e com pouca substância! Mas, lá vão andando. Adaptaram-se bem a um mundo escorregadio e gelatinoso que cada vez mais toma conta das nossas vidas. Perante o adormecimento geral há uma tendência para nos adaptarmos às circunstâncias fingindo que está tudo bem. Os corajosos são logo apontados a dedo. Os defensores da "gelatinolândia" são os primeiros a bradar aos quatros ventos e, sobretudo, nas redes sociais: fujam dessa gente que tem pensamento próprio! Fujam dessa gente que reflecte sobre a causa das coisas! Fujam dessa gente inquieta e desassossegada que perturba o efeito desta anestesia geral que dá uma sonolência desejada e sem preocupações de grande significado! Para estes adeptos fanáticos da "vida-sofá" é preciso defender esta paz gelatinosa que, apesar de tudo, é muito aconchegada e tranquila. Este é um tempo assim. Faltam os valores e, acima de tudo, o compromisso! Precisamos de compromissos para que as plataformas desta sociedade tão volátil e sem substância se equilibrem. O compromisso é um caminho muito difícil. Implica envolvimento, responsabilização e risco! Implica confiança! Confiança em nós e nos outros! O compromisso exige-nos por inteiro! Dispensa as metades de nós e as partes que às vezes colocamos em coisas nas quais não acreditamos. No tempo de todos os individualismos o compromisso é considerado uma perda de tempo, na medida em que implica o envolvimento do outro. O compromisso assusta muita gente. Estimula a hesitação. Promove a insegurança. Há pouca fé nos outros! Poucos assumem que apenas somos quem somos em função da nossa relação com os outros. E só nos podemos relacionar com os outros com compromisso. E se assumimos um compromisso temos a obrigatoriedade de o cumprir para continuarmos a ser quem somos. Como nos disse Nelson Mandela "compromisso significa que ambas as partes envolvidas deviam abdicar de alguma coisa em favor da outra, significa ter capacidade para lidar com as exigências, os medos, da outra." Muitos querem sentir-se livres. Julgam, erradamente, que o compromisso é inibidor da sua liberdade. Nada de mais errado. O compromisso com o outro é a realização plena da nossa individualidade. É a elevação da nossa alma e a resolução extraordinária do nosso sentir. Aqueles que se julgam livres por não quererem assumir compromissos são escravos das fantasias e do mundo das sombras. Dificilmente se libertarão de caminhos gelatinosos apesar da sua aparente felicidade. A felicidade a sério vem do compromisso. O que é o amor sem compromisso? O que é a amizade sem compromisso? O que é um projecto sem compromisso? O que é uma empresa sem compromisso? Assumir um compromisso é um sinal inequívoco de maturidade. Só deve assumir compromisso quem o quiser honrar. A este propósito recorro de novo a Nelson Mandela: "se não tencionas chegar a um compromisso, não negoceies". É muito importante que assim aconteça porque o compromisso exige verdade, transparência e lealdade. O compromisso é uma libertação do medo. É permitir que os outros entrem na nossa vida e sonhar em conjunto sem nos sentirmos ameaçados. No compromisso entregamo-nos e não estamos sempre a olhar para o retrovisor! Apenas acreditamos e vamos em frente! É preciso muita coragem e determinação para esta escolha. Mas este é caminho certo na medida em que se transforma na "ponte" do equilíbrio e da confiança nos outros e na melhor exaltação da nossa condição humana. Neste tempo desequilibrado e de conflitualidade permanente precisamos de paz e estabilidade. Cito outra vez Nelson Mandela: "em todas as disputas acaba-se por chegar a um ponto em que nenhuma das partes tem completa razão nem completa falta dela, e o compromisso é a única alternativa para aqueles que seriamente desejam a paz e a estabilidade". É pelo compromisso que vamos! É pelo compromisso que somos!

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