OPINIóN
Actualizado 27/03/2016
Miguel Nascimiento

Neste Domingo de Ressurreição a alegria toma conta dos nossos corações. Hoje é dia de júbilo! Jesus Cristo Ressuscitou! Tudo está consumado! E tudo aconteceu conforme as escrituras! A Páscoa é o ponto mais alto do calendário litúrgico e a festa mais importante para os cristãos. Depois de quarenta dias de profunda introspecção, jejum, oração e penitência os cristãos entraram na Semana Santa para acompanhar e vivenciar a caminhada de Jesus Cristo até ao Calvário e à Cruz. Paixão, Morte e Ressurreição marcam um tempo colectivo e individual. Neste período acontecem todas as celebrações e de todos os silêncios. Nestes dias intensos de grande recolhimento e também de grande alegria é fundamental que nos deixemos envolver nestes autênticos itinerários do sentir para que possamos escutar o nosso coração e fazer a limpeza que deve ser feita! Cada um tem o seu caminho. Cada um saberá abrir as portas necessárias para que o ar fresco liberte tudo o que deve libertar. A Páscoa é tempo de encontros e reencontros. É a festa da família e também um marco fortíssimo de todas as manifestações culturais e de afirmação de todas as tradições. É assim há muito tempo! A nossa felicidade e a nossa alegria passam também por revivermos as tradições em que a nossa cultura se funda. Apesar da enorme pressão da modernidade não devemos deixar morrer a tradição nem deixar de cumprir todos os rituais e manifestações culturais que ao longo de séculos as nossas comunidades teimaram em preservar. Mas, no meio de toda a força deste enorme caudal cultural cada um de nós deve guardar espaço no interior da sua intimidade para reflectir sobre o significado da Quaresma, da Semana Santa, do Tríduo Pascal e da Páscoa. Cada momento tem o seu significado. É preciso que os saibamos interpretar e vivenciar. Cada um de nós terá a capacidade de assimilar a fortíssima mensagem que este tempo evidencia para poder extrair dela a luz para o caminho que se segue. A Páscoa é passagem e renovação. Mas, se nos distrairmos com tudo o que é acessório a Páscoa pode passar por nós como apenas uma festa no calendário, uma pausa no trabalho ou umas miniférias, sem deixar uma única semente de esperança ou um sinal de renovação. Nestes dias difíceis que vão correndo num mundo tão conturbado, violento e intolerante, são precisamente as mensagens fortes, os valores e o tempo do amor que precisamente têm mais força e ânimo para combater as bestas que teimam em desestabilizar um espaço, que não sendo perfeito, tem, desde há muito, um conjunto de valores e regras de comportamento social e cultural que se fundam no humanismo e no respeito pelo próximo! Todos merecemos um tempo de descanso. Uma pausa! Devemos partilhar o pão com a família e participar em todas as tradições e manifestações culturais. Devemos envolver-nos com a nossa comunidade e vivenciar todos os rituais que nos unem e fortalecem os laços que nos ligam há muitas gerações. Como já referi este é o tempo de todas as celebrações. Mas também deve ser o tempo de todos os silêncios! E só no silêncio e na quietude nos conseguiremos concentrar no que é essencial. E se no meio de todas as celebrações conseguirmos encontrar esse espaço de recolhimento e oração, talvez a Páscoa possa assumir dentro de nós o seu verdadeiro significado. E se apreendermos a mensagem que Jesus Cristo nos transmitiu com humildade, privação, sofrimento e morte, talvez possamos ajudar a fortificar os valores humanistas das nossas comunidades que tal como as muralhas das fortalezas medievais de vez em quando precisavam de ser reparadas e muitas vezes refundadas. Tenho a certeza que cada um de nós saberá, à sua maneira, encontrar esse espaço no caminho. E se isso acontecer a luz deste dia - e de todos os dias que se seguem neste tempo de renovação - será mais intensa, mais alegre e mais feliz! Depois de todos os silêncios hoje é dia de celebração. Celebremos!

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