OPINIóN
Actualizado 13/12/2015
Miguel Nascimiento

Há pouco tempo quase toquei nas estrelas que brilhavam sobre a serra da gardunha. O manto negro que cobria a montanha fazia brilhar ainda mais todas as estrelas que a minha visão podia alcançar. Apesar do frio não queria sair dali. Contemplei o céu uma e outra vez! Segui o meu caminho com as estrelas no meu pensamento. Ali, no meio da montanha, estava mais perto delas e quase sentia o seu brilho no rosto. O quadro em cima transmitia uma calma impressionante que contrastava com as turbulências do quadro em baixo. Sempre que o caminho se apresenta difícil olhamos para cima e alimentamos, como Marquerite Yourcenar, "pensamentos maravilhosos quando as estrelas estão presentes". As estrelas guiam-nos sempre e olham por nós mesmo que, por vezes, estejamos mergulhados numa completa escuridão. É precisamente no meio do escuro profundo que uma estrela se faz notar, aparecendo quando faz falta. O caminho é para percorrer mesmo quando não vemos as estrelas. Elas estão sempre lá, mesmo que as nuvens perturbem a nossa visão. Nesse momento é preciso confiar e seguir a caminhada mesmo sem ver. É preciso acreditar no passo seguinte e andar, andar para a frente, mesmo que tropecemos na pedra seguinte. E quando cairmos é preciso termos presente que as estrelas continuam à nossa espera. Por isso, não devemos concentrar o nosso pensamento no chão mas sim no que está mais alto. Nesse dia, na serra da Gardunha, quase toquei nas estrelas. Sei, racionalmente, que estavam longe mas, naquele momento, estavam perto, muito perto do meu coração. Quis trazer apenas uma para oferecer a alguém muito especial?mas tive medo que se apagasse. Que morresse nesse instante. Afastei aquela ideia dos meus pensamentos ?afinal as estrelas estão onde devem estar, lá em cima, no alto, para todos as poderem ver e contemplar. Os dias e as noites do nosso caminho correm a diferentes ritmos. Uns seguem mais depressa e outros mais devagar. Tal como Van Gogh também "não temos certeza de nada mas as estrelas fazem-nos sonhar". Sonho quase sempre com os pés no chão, mas não deixo nunca de olhar para as estrelas. Olho para cima, para o céu estrelado e vislumbro sempre as portas da esperança e as saídas das tempestades. Apesar das dificuldades que todos atravessamos sigo sempre com coragem mesmo que não encontre o caminho. Séneca diz-nos que "a coragem conduz às estrelas, e o medo à morte". E é com coragem que todos devemos caminhar nestes tempos difíceis e de grande escuridão. Todos sabemos que é aí, na escuridão, que as estrelas brilham mais. E quanto mais escura for a noite mais as estrelas brilham. Inspiremo-nos nelas e na sua luz para guiarmos os nossos passos, construindo um caminho de amor e de tolerância. Mesmo que as nuvens do horizonte nos ocultem a visão magnífica do céu estrelado é preciso seguirmos em frente, colocando no nosso coração uma estrela que permita iluminar o nosso caminho. Há dias voltei a contemplar o imenso céu que pousa suavemente sobre a Gardunha ? estava a formular um desejo quando fui interrompido por uma voz de criança: queres uma estrela? Sim, quero, disse sem pensar. Mas, quanto custa? É o que quiser dar para ajudar aqueles que precisam! Naquele dia não pensei em apanhar uma estrela. Foi uma estrela que veio ter comigo pelas mãos de uma criança, pelas mãos do futuro!

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