"o homem e o seu destino seguram-se um ao outro, evocam-se e criam-se mutuamente. Não é verdade que o destino entre cego na nossa vida, não. O destino entra pela porta que nós mesmo abrimos, convidando-o a passar", Sándor Márai.
No enquadramento da mitologia grega o destino era determinado pelas moiras. Eram três irmãs elevadas à categoria de divindades que, por sua vez, tinham influência nos homens e nos deuses. Estas mulheres tinham a responsabilidade de fabricar, tecer e cortar o fio da vida de todos. Nesta tarefa incomensurável as moiras usavam a roda da fortuna para tecerem os fios da vida e ditarem a boa ou má sorte. Estas moiras eram representadas umas vezes como belas donzelas e outras como mulheres de aspecto sinistro que tinham designações em conformidade com as suas tarefas no caminho do destino. Assim, a moira Cloto que significa "fiar" segurava o fuso e tecia o fio da vida. Era a deusa dos nascimentos e partos. Láquesis que significa "sortear" puxava e enrolava o fio tecido, sorteando as atribuições que se ganhavam na vida. Finalmente, Átropos que significa "afastar", cortava o fio da vida, determinando o fim da existência e do caminho. A mitologia grega oferece-nos sempre imagens tão belas quanto sinistras mas sempre de um significado extraordinário. Sou natural da Covilhã, terra de fios e tecidos. Por isso, esta visão mitológica do destino ganha outra proximidade. Ali, na cidade da lã e da neve, abrigada pela grande montanha que toca as estrelas, o som dos teares determinou o destino de muitas gerações de covilhanenses, fez a cidade e traçou a história de um território que ainda hoje exibe uma fortíssima identidade marcada pelo destino dos fios e tecidos. Todos nos questionamos sobre os acontecimentos da nossa vida que são traçados algures por forças que não conseguimos nem vislumbrar nem alcançar. Uns acreditam no destino e outros não. Há quem se ponha ao caminho confiando no destino e há quem faça o seu próprio caminho e também o seu destino. Abraço todas as perspectivas do destino como se estivesse a olhar a vida através de um caleidoscópio contemplando mil imagens de tantas outras cores e formas. No caminho da nossa vida percorrido entre montes e vales, entre altos e baixos, pensamos muitas vezes no destino. Desejamos isto e aquilo, queremos chegar aqui e ali e, por vezes, a geografias difíceis de alcançar. Enfrentamos intempéries e momentos de dificuldade extrema. Também conhecemos alegrias e tempos de prazer. Mas, por vezes, parece que estamos sempre focados nas dificuldades e nas nuvens negras que assombram o caminho. Reclamamos de tudo e de nada. Queixamo-nos muito. Dizemos que a culpa é do destino. O destino, essa força invisível que comanda a nossa vida e sobre a qual nada podemos fazer para alterar determinadas circunstâncias. Mas, como nos diz Sándor Márai, "o homem e o seu destino seguram-se um ao outro, evocam-se e criam-se mutuamente. Não é verdade que o destino entre cego na nossa vida, não. O destino entra pela porta que nós mesmo abrimos, convidando-o a passar." Neste sentido, o nosso destino é também um abrir e fechar de portas e um caminho contínuo de opções certas e erradas que acontecem, precisamente, porque em nós reside uma magnífica dimensão humana. Por vezes, o destino prega-nos partidas que nos fazem perder a força, a fé e a esperança. Mas, é precisamente nesses momentos de solidão e de tristeza profunda que devemos olhar em frente e procurar os raios de sol que iluminam a saída da escuridão em que estamos em determinado momento mergulhados. É também por isso que me fascinou sempre o fantástico poema "Invictus" de William Ernest Henley e ao qual o grande Nelson Mandela se inspirou para continuar a sua caminhada: "não importa o quão estreita seja o portão e quão repleta de castigos seja a sentença, eu sou o dono do meu destino, eu sou o capitão da minha alma". Às vezes, principalmente em tempos mais duros e difíceis, devemos procurar inspiração naqueles que desde sempre estiveram connosco e que nos enviaram todos os sinais. O caminho deve continuar porque como nos diz José Saramago, "o destino, isso a que damos o nome de destino, como todas as coisas deste mundo, não conhece linha recta".