OPINIóN
Actualizado 08/11/2015
Miguel Nascimiento

Depois do equinócio de Outono que Setembro já deixou para trás adensa-se o tempo na floresta mágica da nossa vida. A natureza faz o seu trabalho. Procura e promove a mudança. O verde das folhas dos encantos de Verão dá lugar a uma magnífica paleta de cores. Os tons amarelos e castanhos invadem a Floresta. Depois juntam-se os de laranja, vermelho e roxo! Surgem os frutos do tempo! As romãs e os diospiros são reis do território da imensa metamorfose da natureza! Os dias de pouca luz tomam conta do horizonte. Os cogumelos vão povoando a floresta e despertam em nós o imaginário dos duendes e seres mágicos que sussurram entre a vegetação. O frio começa a envolver-nos. Abraça-nos! Sentimos a necessidade do aconchego! A lareira inicia o seu tempo e com ele os rituais do fogo. O calor e o aconchego promovem todos os sonhos do mundo. Contemplamos a floresta de Outono que mergulha em dias de chuva e nevoeiro intenso entremeados por raios de sol que exaltam todos os movimentos de vida. O vento que sopra do Norte começa a despir as árvores, lentamente, como se de um intenso jogo de sedução se tratasse. As árvores vão ficando despidas, lentamente, e as suas vestes, quais folhas caídas, voam para longe como os nossos sonhos e esperanças. A beleza das árvores nuas entra pelo nosso olhar como corpos de mulheres sedutoras esperando o avanço da nossa paixão de Outono. Nesta floresta tudo é natural. Cada coisa tem o seu espaço. Não há sobreposições. Sente-se neste tempo uma espécie de harmonia que nos induz tranquilidade, quietude?amor! Outono é transformação! É preciso escutar a natureza. E às vezes precisamos de morrer para voltar a nascer no mesmo tempo mas com outro olhar sobre a vida. Mas também é por isso que a morte aparente que o Outono representa não pode nunca roubar a esperança da Primavera. A renovação é o caminho de sempre. Talvez não tenhamos prestado a atenção que se impunha em cada mudança de estação. Vamos avançando nesta floresta de Outono. Ao longe avista-se uma bela borboleta amarela que voa com uma elegância suprema entre os raios de sol. Mas, afinal, chegando perto percebe-se que é apenas uma folha amarela que cumpre o seu destino jogando com a lei da gravidade. Desprendeu-se dos ramos, deixando a árvore-mãe mais a descoberto, mas também mais ousada e surpreendente. A folha seguiu viagem e afinal a borboleta não era apenas uma ilusão como são tantas coisas em todos os Outonos da nossa vida e da nossa floresta repleta de caminhos cruzados e encruzilhadas difíceis de ultrapassar. Entretanto a noite cai e com ela um enorme manto de silêncio apenas interrompido pelo doce crepitar da lareira. Lá fora percebe-se o frio e a densidade do tempo. Apesar de todas as dificuldades da vida e dos pensamentos menos positivos disto e daquilo o calor que emana deste fogo entra-nos pela alma dentro, contrastando com o frio que se sente lá fora. Entretanto as castanhas estão quase prontas. Por momentos o Outono da nossa vida está todo ali naquele instante de aconchego! Coloco mais um tronco para apimentar a chama. Sirvo dois copos de jeropiga e abraçamo-nos no quentinho dos nossos corações. O frio do Outono tem destas coisas?aproxima-nos! Ficamos juntinhos sem pensar em mais nada?a olhar pela janela contemplando o vento que leva as folhas amarelas e também todas as nossas preocupações! Agora somos só nós nesta floresta do Outono da nossa vida?neste aconchego, neste amor!

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