OPINIóN
Actualizado 31/05/2015
Miguel Nascimiento

A europa envelhecida tem atirado para zonas de exclusão social uma geração maior, repleta de conhecimento, que devido à idade avançada está impedida, ainda que isso não seja assumido, de participar na construção do futuro

A globalização entra todos os dias em nossa casa. Senta-se connosco à mesa e partilha o nosso espaço de intimidade. As novas tecnologias da informação e comunicação assuem o papel de mensageiro. Mas, neste território não há filtros nem conselhos redactoriais. Mas, também não há censura. É a liberdade total, nua e crua. O discurso reinante faz constantemente a apologia do global, esvaziando tudo o que é local e que assume particular singularidade. Vamo-nos tornando iguais nesta grande aldeia. Neste tempo novo tudo é macro e há pouco espaço para o micro. Perde-se a identidade nesta autêntica terraplanagem mediática! As imagens são vertiginosas, disto e daquilo.

A homogeneização consome-nos por dentro. Vamos, de forma paulatina, perdendo a memória dos lugares e dos afectos. Não há espaço nem tempo para quem anda fora das formatações dominantes. Mas, em simultâneo, é preciso, cada vez mais, que os decisores das políticas que nos governam olhem para local e para a grande evidência do pormenor.

Os tempos difíceis que atravessamos não nos deixam fugir à macropolítica. Muitas decisões terão que ser tomadas nesse grande espaço de poder. Sabemos isso e, de momento, não há outro caminho! Porém, os cidadãos têm vindo, lentamente, a reclamar mais atenção para os problemas locais que, quase sempre, estão associados aos problemas das pessoas e às evidências do seu quotidiano. Por isso, defendo, desde há muito, que os políticos devem apostar nas políticas de proximidade, procurando dar atenção ao bairro, ou à aldeia, como lugar de afectos. A europa envelhecida tem atirado para zonas de exclusão social uma geração maior, repleta de conhecimento, que devido à idade avançada está impedida, ainda que isso não seja assumido, de participar na construção do futuro. O Bairro envelheceu e degradou-se.

ornou-se escuro. Já não se escuta o riso das crianças. Há apenas solidão e tristeza! Os idosos olham pelas janelas. Procuram as memórias e os raios de sol no combate a uma solidão que mata! Na aldeia é a mesma coisa! Os podem amanham a terra. Sempre respiram outro ar de maior liberdade. Há sempre um vento que passa!

Por isso, é tempo de olharmos para o pormenor. Para a política do bairro que promova a qualidade de vida, renovando a esperança e resgatando a memória dos tempos. Na distribuição de pelouros na governação local olha-se muito para as áreas de actuação (a economia e as finanças, o urbanismo, a educação, a saúde, a educação?). Raramente se pensa na geografia da cidade com gente dentro! Muitas vezes, a nível local, procura-se agregar linhas de actuação numa lógica de verdadeira macropolítica. Dizem sempre que é para melhorar a eficiência e a eficácia. Mas, na verdade, perde-se mais do que se ganha! Perde-se a vida e a memória dos afectos dos lugares com gente dentro.

É preciso renovar e promover o equilíbrio inter-geracional e semear vida em lugares de referência que tiveram vozes, cheiros, cores e sons! Às vezes o silêncio é ensurdecedor! É também por isso que os políticos devem organizar as suas prioridades para darem atenção ao bairro e à aldeia para, entre muitos outros, preservarem o tempo do passado, mas também do futuro. É preciso dar atenção às pessoas e às suas necessidades independentemente da idade e da situação em que se encontram. Estes bairros, estes lugares de factos, precisam de gente e de luz! Deixemos então entrar o sol!

 

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